Se no ano passado muitos veículos continuaram abertos já passava da hora do fecho do evento, nesta terceira edição do Caldas Street Food Festival – realizada entre 8 e 10 de Dezembro – a maioria dos participantes começou a arrumar a bagagem mais cedo. A tempestade Ana afugentou as pessoas das ruas na tarde de domingo e os vendedores acabaram por não ter condições para permanecer abertos até às 21h00, hora em que encerrava o festival.
Apesar do mau tempo do último dia, nos primeiros dois a adesão foi semelhante à de 2016, com centenas de pessoas a encher a Avenida 1º Maio para provarem sabores de todo o mundo: Portugal, México, Brasil, Estados Unidos, Itália, França e Hungria. Participaram ao todo 20 veículos naquela que foi a edição mais internacional dos últimos três anos.

Uma excelente organização. Um excelente cenário com a árvore de Natal como pano de fundo. Um excelente ambiente com pessoas simpáticas e dispostas a pagar para consumir. Só mesmo São Pedro é que não colaborou para fazer da terceira edição do Caldas Street Food a mais visitada de sempre. Foi este o balanço dado pela organização do evento (Câmara das Caldas em colaboração com Maria João Botas) e pela maioria dos participantes deste ano.
Em comparação com os anos anteriores, houve nesta edição mais veículos estrangeiros (de Espanha, Brasil e Venezuela), mais esplanadas com lugares sentados, mais animação e uma novidade: nos três dias realizaram-se showcookings ao ar livre com profissionais que têm os seus negócios nas Caldas da Rainha. Foi o caso de Tiago Ferreira do Gramas com Sabor, Paulo Santos do Forno do Beco, e Marta Calhau do Marta’s Place.
“Inserimos os showcookings com o objectivo de aproximar as pessoas dos excelentes profissionais que temos na nossa cidade e que merecem ser valorizados, além que é uma forma de integrar o público no próprio evento”, explica Maria João Botas, acrescentando que recebeu centenas de pedidos de inscrição, embora só tenha podido aceitar 20. “É sempre ingrato termos que fazer uma selecção tão rigorosa pois há projectos que estão a tentar participar desde a primeira edição, mas ao mesmo tempo assim garantimos que apresentamos os melhores do país”, adianta a mentora do Caldas Street Food. A qualidade dos produtos, o design dos veículos e o conceito gastronómico que representam são os principais critérios de escolha dos candidatos.
Quatro dos 20 participantes deste ano foram estrangeiros e o próximo objectivo da organização é captar mais veículos internacionais. “O festival já assumiu uma dimensão em que é conhecido na Europa pois tivemos para esta edição interessados de França, Itália e Alemanha, mas não há ainda uma estrutura que consiga suportar o custo das deslocações desses candidatos”, afirma a responsável, que pretende começar a organizar a quarta edição já em Janeiro de forma a conseguir o apoio de mais parceiros e assim trazer às Caldas mais estrangeiros.
CONCEITOS INOVADORES

Esqueça a comida gordurosa: neste festival não há espaço para o fast-food, muito pelo contrário. Ano após ano, as propostas de comida de rua estão cada vez mais criativas devido ao boom de novos projectos de street food que têm surgido principalmente desde 2015.
Já imaginou uma fatia de pizza em forma de cone, por exemplo? É esta a sugestão da iConic-Pizza, um pequeno atrelado vermelho que apresenta aos fãs de pizza uma nova forma de saboreá-la. “Tentámos adaptar a pizza ao street food porque comer uma fatia em andamento não é uma tarefa fácil. Então seguimos a ideia de um chefe italiano que há uns anos se lembrou de enrolar a massa de pizza em cone e depois recheá-lo com outros ingredientes”, conta Pedro Barão à Gazeta das Caldas. Além dos sabores tradicionais – fiambre, mozarela e tomate – os cones também podem ser pequenas sobremesas se recheados com Nutella ou cheesecake.
Aos cones de pizza juntam-se hambúrgueres de polvo, cachorros de diversas variedades de salsichas alemãs, arepas venezuelanas, Kürtös Kalács (doces salgados de origem húngara), crepes e cupcakes, sandes gourmet, churros, burritos, piadinas italianas e frango com batatas fritas.
De Girona (Catalunha) vem o food-truck que este ano venceu o Campeonato de Street Food de Espanha. Daniel Morral – pela primeira vez nas Caldas da Rainha – viveu durante vários anos no Texas (Estados Unidos) e em 2015 decidiu investir num restaurante ambulante dedicado à venda de carnes de churrasco grelhadas ao estilo americano. No seu Wendy’s BBQ encontramos sandes de porco, frango e vaca e uma mistura de carne picada picante com pimentos, além de suculentas costeletas, espetadas e entrecosto. O barbecue é aqui o rei dos molhos.
“O melhor desta profissão é que andamos sempre de um lado para o outro a conhecer novas pessoas e novos lugares, nunca nos cansamos por estarmos no mesmo sítio ou vermos sempre as mesmas caras”, afirma o vendedor, surpreendido pelo facto de haver tanto movimento na Avenida 1º de Maio, mas também pela qualidade dos produtos apresentados no festival.
Já Edjane Souza leva-nos até ao Brasil com as suas tapiocas. Actualmente a viver em Lisboa, a brasileira decidiu investir no street food no ano passado e assim iniciar um negócio que a mantivesse próxima às suas origens. A marca Icó Original Tapioca faz referência ao nome da fazenda do seu avô, que pertence à família há seis gerações. “Sempre cultivámos mandioca e também temos uma unidade onde a transformamos em farinha”, conta Edjane Souza, explicando que a tapioca é um alimento de origem indígena feito através da mistura do amido da mandioca com água. Este preparado vai à frigideira e ganha uma forma semelhante à do crepe, sendo a sua textura crocante nas pontas e gelatinosa no centro. “Tanto pode ser doce como salgada, mas é um alimento muito saudável, é livre de glúten e rico em vitaminas e minerais”, acrescenta a brasileira, que nos recomenda a tapioca preta (feita com tinta de choco), a tapioca cor-de-rosa (feita com sumo de beterraba) e a tapioca de café se preferirmos uma sobremesa.
O Caldas Street Food Festival é dos únicos eventos nacionais exclusivamente dedicados à comida de rua. Muitas vezes os restaurantes sobre rodas associam-se a outras iniciativas (como festivais, concertos e eventos particulares), mas nas Caldas da Rainha o conceito é 100% street food. Contribuíram para a dinamização do festival a Associação de Artesãos das Caldas da Rainha (com uma feira de artesanato), os grupos musicais Jonhye Pipe & Paulo Nunes e Bailadoiro e ainda os figurantes de animação natalícia da ACCCRO.