Separar todos os resíduos e reaproveitá-los. Zero desperdício. Zero lixo. E zero aterros sanitários. Seria a economia circular a funcionar em pleno. Pode não ser uma utopia, mas ainda falta para lá se chegar. Por enquanto, já não é mau que tenhamos um aterro sanitário que trata os resíduos de todos os concelhos da região. Fomos ver como funciona: os lixos vão para o aterro, papéis e vidros são acondicionados e vendidos para fábricas, e os plásticos e metais são separados e igualmente vendidos.
Bem vindo ao Aterro Sanitário do Oeste. Um sítio que cheira mal, mas que é absolutamente imprescindível para a qualidade de vida das populações da região.
Na semana passada vimos como o lixo que mandamos para o contentor é recolhido pelos Serviços Municipalizados e despejado na estação de transferência das Gaeiras. A partir dali é a Valorsul (antiga Resioeste) que trata de o recolher e transportar para o aterro sanitário no Vilar.
Sai-se da A8 e conduzimos em direcção ao Outeiro da Cabeça e Vilar. A estrada tem pouco trânsito, mas pontificam os camiões da Valorsul que vão e vêm do aterro. Logo à entrada, apercebemo-nos que o local tem vindo a crescer à razão de muitos metros cúbicos por ano, mas isso mais não é do que devolver à Natureza a sua orografia original. Expliquemo-nos: o aterro consiste num enorme vale artificial que foi impermeabilizado e que agora vai crescendo em altura, com o lixo que nele é depositado, até voltar a ter as suas formas originais, respeitando as colinas que antes existiam.
Nele são despejados diariamente 285 toneladas de resíduos indiferenciados vindos de 14 concelhos (os 12 municípios do Oeste mais Rio Maior e Azambuja).
Os lixos são espalhados e imediatamente cobertos por uma camada de escórias (provenientes da incineradora da Valorsul em Lisboa), sobre a qual se deposita mais lixo e mais escória e assim sucessivamente, crescendo em altura até se transformarem em colinas idênticas às da geografia da região.
As escórias destinam-se a evitar um escoamento demasiado rápido dos lixiviados. Este líquido é aquele que encontramos no fundo do saco do lixo quando deixamos lá dentro matéria orgânica que começou a apodrecer. Imagine-se agora milhões de litros de lixiviados a escorrer por entre as entranhas do aterro sanitário.
Vão todos dar a quatro lagoas artificiais de onde são bombeados para uma estação de tratamento da qual se extraem as lamas, seguindo o líquido – agora um pouco menos mal cheiroso e já um bocadinho depurado – por um pipeline para o Bombarral onde se mistura com os resíduos domésticos, sendo encaminhado para a ETAR do Arelho, em Óbidos, onde é, juntamente com as águas dos esgotos dos concelho dos Cadaval, Bombarral e Óbidos, tratado e transformado em água para rega.
Mas no Vilar além dos lixiviados, aquelas toneladas de lixo enterradas produzem também gás metano. Um gás venenoso, que polui 20 vezes mais do que o CO2. Ou seja, os nossos restos de comida que produzimos em casa, quando apodrecem, podem poluir muito mais do que o tubo de escape do nosso carro.
A existência do biogás no aterro sanitário é um exemplo prático daquela teoria que diz que devemos transformar as ameaças em oportunidades. O aterro tem poços que fazem a captação do gás metano, que é canalizado para moto-geradores que produzem energia eléctrica. Energia esta que é injectada na rede eléctrica nacional.
Somando com a electricidade produzida noutros aterros, a Valorsul consegue ser uma das maiores produtoras nacionais de energia eléctrica.
Esta constitui uma das mais importantes receitas do aterro sanitário. Os lixiviados só dão despesa e trabalho (se bem que no final do processo sejam transformados em água quase potável). O gás ao menos produz energia eléctrica e dá dinheiro a ganhar à Valorsul.
O aterro do Vilar tem 18 anos e capacidade para durar mais 12 anos. Mas quando fechar, vai continuar a escoar águas lixiviadas, pelo menos, por mais 30 anos e gás metano por mais 10 a 15 anos. Os custos relacionados com a manutenção desta actividade têm de ser já incorporados e por isso são indexados à factura que os municípios pagam à Valorsul pelo recolha e tratamento dos seus lixos.
TRÊS CURIOSIDADES
Sobre o aterro propriamente dito, há ainda mais três curiosidades. Uma é que, periodicamente, há um falcão que é chamado a dar uma volta pelos céus confinantes para afastar os bandos de gaivotas – quais ratazanas com asas – que insistem em poisar no aterro em busca de comida. São uma praga e um perigo para a saúde pública pois, ao pousarem naqueles terrenos, levam nas patas bactérias que podem poluir os terrenos, rios e charcas da região. Daí que o Aterro Sanitário do Oeste pague de bom grado a uma empresa que, com as suas aves de rapina, mantêm as gaivotas ao largo.
Outra curiosidade é que, um dia, se fizermos um furo no aterro e retirarmos várias camadas de resíduos, estes poderão dar-nos informação sobre produtos usados e os hábitos de consumo das últimas décadas. Uma verdadeira delícia para os arqueólogos do futuro.
E é precisamente relacionado com o consumo que se prende o terceiro facto curioso. Desde a sua inauguração o Aterro Sanitário do Oeste foi sempre em crescendo, recebendo, ano após ano, cada vez mais resíduos. Mas durante os anos da crise a quantidade de lixo decaiu porque as pessoas consumiam menos.
O PERCURSO DO PAPEL
Ao contrário do lixo dos contentores, os resíduos colocados nos ecopontos são recolhidos directamente pela Valorsul que os transporta para o Vilar. Cada um tem um caminho próprio e destinos diferentes.
O papel tem um percurso muito simples. É recolhido, enfardado, armazenado e vendido às fábricas de papel, que o utilizam como matéria-prima para fazer mais papel.
O mercado é livre e o preço pode subir ou descer consoante a oferta e a procura. O papel e o cartão já foram mais valorizados. A então Resioeste (antes de ser absorvida pela Valorsul) chegou a vender papel para a França e Alemanha. Mas ultimamente só tem vendido para o mercado nacional e o seu preço até está baixo. Aparentemente, há muita oferta neste mercado.
Mas seja como for, todo o papel velho que é colocado nos ecopontos terá sempre como destino fazer papel novo.
Para facilitar a recolha do cartão, que tem origem sobretudo nos estabelecimentos comerciais, a Valorsul facultou aos municípios veículos próprios para o receber e transportar para o aterro.
O VIDRO QUE ESCASSEIA
Tal como o papel, o vidro é recolhido e depositado no aterro sanitário e depois carregado à pazada para camiões e escoado para fábricas de vidro. A essa matéria-prima chama-se casco e está bastante valorizada. Tanto que até se desconfia que há circuitos paralelos que traficam vidro à revelia das autoridades.
Tendo sido o primeiro produto a ser separado (os conhecidos vidrões são anteriores aos ecopontos), a recolha de vidro no aterro estagnou. É possível que esteja a ser desviado, mas também é verdade que há cada vez mais embalagens em plástico que estão a substituir as de vidro. Hoje em dia, praticamente só os sectores do vinho e da cerveja é que são grandes consumidores de garrafas, tendo os refrigerantes e outros produtos líquidos optado pelas embalagens em plástico ou em lata.
PLÁSTICOS – OS MAIS TRABALHOSOS
A parte dos plásticos no Aterro Sanitário do Oeste é o que ocupa mais mão-de-obra e o armazém que os acolhe parece uma autêntica fábrica. Toneladas de plástico amontoam-se até ao tecto e vão sendo retiradas por veículos que empurram estes resíduos para um fosso a partir do qual são içados para pontos de triagem. Ao longo de um complexo circuito que parece uma linha de montagem (na verdade mais parece uma linha de “desmontagem”) vão sendo separados os metais dos plásticos e distribuídos estes últimos por receptáculos diferentes.
Parte deste trabalho é feito por ímans e sensores ópticos , mas uma parte é realizada manualmente por uma equipa de 12 pessoas que vai escolhendo, num tapete rolante, os plásticos com características diferentes e os atira para uns contentores. É um trabalho árduo, num ambiente inevitavelmente sujo e ruidoso, mas imprescindível para que os resíduos se valorizem ao serem agrupados pelas suas características físico-químicas.
Óbidos é o campeão da separação de resíduos
Os obidenses são, entre todos os oestinos, os que mais separam os resíduos. Em média, entre Janeiro e Junho de 2019, cada habitante do concelho de Óbidos separou 70 quilos de vidro, embalagens de plástico e metal, bem como papel e cartão. Segue-se Peniche em segundo lugar (com 51 Kg por habitante), registando-se um curioso empate com as duas maiores cidades do Oeste (Caldas da Rainha e Torres Vedras) empatadas. Os seus habitantes reciclam, em média, 44 quilos de resíduos, logo seguidos da Lourinhã, com 43 quilos.
No final da tabela estão, curiosamente, os dois municípios que não pertencem à OesteCIM: Azambuja e Rio Maior. Os seus habitantes são os que menos separam os resíduos. Mas Alenquer, Cadaval, Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço e Nazaré também não constituem um bom exemplo.
ALGUNS MITOS E CUIDADOS A TER
– Só o vidro de embalagem (garrafas e frascos) é reciclável. Não se deve deitar no vidrão cristais, vidros de janelas, para-brisas, copos, jarras, nem cerâmica vidrada
– As garrafas podem ter gorduras e estar sujas. Serão transformadas em casco e derretidas a altas temperaturas nos fornos das fábricas de vidro
– As garrafas devem ser atiradas com força para o vidrão para que fiquem partidas (mas, por favor, não o faça de noite para não acordar os vizinhos). Ocuparão menos espaço no transporte.
-O mesmo acontece com os plásticos, que devem ser espalmados. Um ecoponto com garrafas cheias de ar encarece o transporte pois os camiões andarão carregados de ar em vez de transportarem mais plástico.
– A esferovite deve ser colocada no ecoponto amarelo, dos plásticos
– Plásticos, latas de conserva e até os recipientes de alumínio que transportam comida podem ser colocados sujos no ecoponto. Devem ser escorridos no lava loiça, mas não vale a pena desperdiçar água a lavá-los.
– Também os copos e garrafas dos iogurtes devem ser depositados sem serem lavados.