Político socialista apresentou novo livro de Rui Correia e de António Nabais, no CCC, e diz que está “a ponderar” a sua candidatura a Belém
Foi com o café-concerto do CCC muito composto que decorreu a apresentação do livro “Pelo Contrário” dos professores Rui Correia e António Nabais. O primeiro foi vereador na Câmara das Caldas, pelo PS, durante vários anos e, por isso, entre os presentes contaram-se vários elementos deste partido .
A apresentação foi feita por António José Seguro que informou que lamentava imenso a sua posição pois, na verdade, tendo sido convidado para apresentar esta obra, era alguém que estava em profundo desacordo com os dois autores de “Pelo Contrário”.
“Por norma convida-se para apresentar livros alguém que venha dizer bem”, disse o convidado, que já foi ministro adjunto do primeiro ministro, deputado da Assembleia da República e do Parlamento Europeu e secretário geral do PS.
A primeira discórdia teve a ver com a organização do livro que precisa de ser virado para ser lido na totalidade, algo que já está em desuso pois “estamos na era em que basta clicar para virar a página”.
Depois, o convidado que leciona em duas universidades em Lisboa, também não gosta das cores das páginas: brancas e pretas, “algo que está passado de moda”. E até propôs que a edição fosse impressa em páginas cor de rosa e azul “que agora é o que domina a discussão sobre as cores que devem ser usadas nas certidões de nascimento”. E foi mais longe na questão de fundo em relação ao livro, tendo afirmado que os autores convocam todos para o valor de não concordar. António José Seguro não gosta disso e dá como exemplo o que se passa no Parlamento. Se a proposta é do Governo, a oposição discorda de imediato. Quando esta última apresenta algo, é o Governo o imediato discordante. Nas redes sociais então é só somar discordâncias.
Na sua opinião, faria bem, por vezes, concordarmos uns com os outros, deixando de lado as dissidências políticas. “Seria bom poder escolher as melhores soluções em grandes questões, como é a habitação em Portugal”.
Os autores ainda convidam os leitores com a seguinte frase: “Anda debater, tu debates bem!”. Ora o convidado acha que é uma provocação porque a expressão é de dois futebolistas – Cristiano Ronaldo e Moutinho, num momento que antecedeu um golo. O primeiro disse ao segundo: “Vem, tu bates bem!” E teve razão porque entrou golo”, contou o apresentador, para depois deixar logo nova provocação aos autores. “Quem é que se atreve a juntar cultura com futebol? Qualquer dia até se lê livro num jardim ou num estádio de futebol”, disse o convidado, que chegou mesmo a propor um novo subtítulo para esta obra: “Debates e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém pois, deste modo , juntavam-se a culinária à cultura, uma conjugação mais feliz para o socialista.
“Um lobo não debate assim”
E quando surge a frase “Quanto mais debates, mais gosto de ti” foi o fim da picada para o apresentador. Esta frase é inspirada na violência doméstica, o que é algo perfeitamente inusitado! “, afirmou, tendo logo formulado alternativas: “Homem debatido vale por dois” ou ainda “Mais vale debater do que remediar!”.
E glosando um poema de Augusto Gil, Seguro arrancou gargalhadas ao citar: “Debate leve, levemente com quem se assemelha a ti/Será lobo será gente/Gente é certamente/ porque um lobo não debate assim”.
As provocações foram-se somando mas houve um argumento que ganhou a concordância de Seguro. O argumento dos autores que diz, logo nas páginas iniciais desta obra, que para fazer qualquer debate é necessário, entre outros items, humildade e honestidade intelectual .
António José Seguro viu-se a discordar dos autores “sem medo”, pois este último “ameaça e destrói a nossa liberdade”.
Na sua opinião, o debate e a discórdia são essenciais em democracia, pois só nas ditaduras é que ninguém debate, pois “é só um a decidir.” Nas democracias delibera-se e antes de decidir, discute-se, depois de ouvir todos. Seguro terminou referindo: “Enquanto há debate, há esperança”.
António Nabais referiu ainda a diferença entre a discordância e a discórdia, algo que tem surgido nas anteriores apresentações desta obra.
O co-autor, que é amante de futebol, reconheceu que, muitas vezes, o próprio desporto deixa as pessoas incultas, sem usar a razão e que são próprias de alcateias que se digladiam entre si”.
Rui Correia afirmou que estava “em estado de choque” já que tinha convidado António José Seguro para que este os ajudasse a vender o livro “já que vem aí o Natal”. E continuou dizendo que “tenho ouvido dizer que Seguro não tem carisma e ele chega aqui e despeja carisma a mais! Assim não pode ser!”, afirmou o autor que acha que há conversas vãs, quando há muita gente que fala “de assuntos que não conhece bem”.
Na sua opinião há receio de discordar pois sabe-se que cada discussão está minada pelo pensamento “vou ter um argumento melhor do que eu teu”.
O livro acabou por surgir pois “vivemos no tempo em que alguém que leu 10 PDFs e já se acha um especialista nos temas”. Para o co-autor, este livro pretende garantir que há mais do que dois lados da moeda (esta pode cair de pé) e é preciso compreender “que pode haver melhores argumentos do que os nossos”.
Apesar da presença de vários canais de televisão, António José Seguro afirmou apenas que “estou a ponderar” em relação à candidatura à Presidência da República. ■