A constante exploração espontânea das crianças no espaço exterior tem-se demonstrado crucial no desenvolvimento da psicomotricidade, uma vez que têm de gerir os seus próprios conflitos e resolver diversos problemas relacionados com as brincadeiras ao ar livre.
Atualmente, temos observado um crescente desenvolvimento tecnológico e populacional, o que obriga a uma vigilância constante de todos os perigos inerentes a que as crianças estão, eventualmente, sujeitas, não lhes dando espaço e tempo para que desenvolvam capacidades de autonomia e até mesmo de auto-estima. Os objetivos do educador devem passar por promover atividades que procuram colmatar estes obstáculos, afastando as crianças da cidade e retirando as tecnologias, criando um espaço onde cultivamos a entre e interajuda, a auto-estima e o relacionamento entre pares, proporcionando assim a brincadeira livre e a brincadeira ao ar livre em todas as estações do ano, com o material e vestuário adequado.
A brincadeira ao ar livre promove na criança o desenvolvimento de sentimentos de familiaridade e pertença, sentido-se mais calma e, logo, mais seguras. Sendo esta uma atividade habitual e diária, sem tempo restrito, a criança desenvolve o sentido de iniciativa, uma vez que o educador tem um papel menos ativo e mais moderador. Esta atividade possibilita a mobilização de competências e áreas de desenvolvimento inerentes ao crescimento global.
O conhecimento da natureza pressupõe reconhecer alterações do clima, nada melhor que um dia de chuva para mexer na terra molhada e moldá-la como plasticina, trabalhando de forma natural a motricidade. Não obstante, podemos usufruir também de um dia de sol no exterior para observar os animais no seu ambiente natural e receber a vitamina D de forma pura e que nos fará tão bem para colmatar as doenças do inverno e para nos fazer crescer de forma saudável. Estas são dimensões significativas e que despertam sensações e sentimentos únicos.
Promovendo um ambiente livre e de experimentação de forma segura e calma, como as mudanças das estações do ano, notamos, através da nossa experiência, que a criança gere conflitos que vão surgindo de forma equilibrada e com entreajuda, sem que seja necessária a intervenção do adulto na maioria das vezes. Desta forma, a criança torna-se mais desperta para os valores morais que pretendemos transmitir, como a amizade e a solidariedade.
Ao ser despertada para a natureza, a criança estará a adquirir atitudes de respeito por todos os seres vivos. Na rua, os mais novos são surpreendidos pelas maravilhas que o solo e todo o contexto envolvente tem para oferecer, como os pequenos bichinhos que habitam nele, suscitando assim questões que poderão e deverão ser abordadas em grande grupo com o educador. Pisar as folhas e ouvir os sons que elas transmitem, bem como ouvir pássaros e o vento a passar entre as árvores permite à criança desenvolver inúmeras competências, entre elas a capacidade de escutar e de estar atento.
Dar espaço a atividades agrícolas, como a construção e manutenção de uma pequena horta promove o contacto das crianças com elementos naturais, constituindo-se também como uma atividade gratificante para as mesmas uma vez que terão contacto direto com diversos alimentos que elas próprias ajudaram a criar e a cuidar, desenvolvendo o gosto por produtos naturais e saudáveis.
O educador deverá promover atividades que estimulem a curiosidade do seu grupo e o espaço exterior revela-se o ambiente apropriado para tal, uma vez que a exploração de elementos naturais desencadeia inúmeras possibilidades e descobertas, levando a criança a querer descobrir e conhecer o que está ao seu redor. Contudo, brincar com a natureza e através da natureza envolve riscos, riscos esses difíceis de prever. Apesar desta imprevisibilidade, o adulto não deverá impedir a criança de continuar a experimentar e a vivenciar tudo aquilo que o ambiente tem para lhe oferecer, uma vez que os benefícios da sua utilização e experimentação, como temos vindo a dizer, são bastante relevantes ao seu desenvolvimento global. Para além disso, a capacidade da criança lidar com estes riscos está inteiramente ligada à capacidade de superação de problemas, o que promove a autoestima e a autonomia perante situações semelhantes do seu dia-a-dia.
É nos primeiros anos de vida que o desenvolvimento sensorial tem uma dimensão fundamental na aprendizagem. Por isso mesmo devemos promover experiências concretas que levam a criança a agir ativamente na sua exploração e daí esta ser a base de múltiplas aquisições futuras.
Educadora Ana Sábio e Educadora Vanessa Silva
Cresce Familiar