
Luís Reis Fialho, o “Máquina”, iniciou o seu negócio em 1976 como uma barbearia que funcionava num espaço do restaurante O Bigodes, na Benedita. Começou a rentabilizar o negócio vendendo material electrónico, como rádios e outros aparelhos domésticos. O negócio cresceu e em 1989 surgiu o primeiro supermercado Neomáquina, em Pombal. Hoje a marca é uma referência na cidade, impondo-se num sector dominado por grandes grupos
O início de vida de Luís Reis Fialho pouco ou nada tem a ver com comércio, muito menos com supermercados. E, no entanto, hoje é um nome de referência no sector. Como muitos dos seus contemporâneos, começou a trabalhar com 10 anos de idade, depois de concluir a 4ª classe. O primeiro trabalho foi guardar ovelhas. Mas não era a vida que queria e, aos 12, foi aprender com o irmão Artur o ofício de fazer sapatos. Da oficina do irmão saiu para trabalhar na fábrica de calçado Rafael, na Benedita, aos 16 anos. Ali ficou até ir para a tropa, aos 21 anos. Mas além de trabalhar na fábrica, começou a cortar cabelo, em casa, por sua conta. O serviço militar levou-o para Angola e foi aí que aperfeiçoou o oficio de barbeiro. A sua comissão deveria ter terminado em Janeiro de 1974, antes da revolução de Abril. Mas o clima de instabilidade que já se vivia atrasou a rendição, pelo que continuou ao serviço no Ultramar até Junho desse ano. Quando a comissão terminou, continuou em Angola por quase mais dois anos. Nesse tempo trabalhou numa barberaria e acabou por abrir o seu próprio negócio, no mesmo ramo. No entanto, o futuro naquele país não era promissor e acabou por regressar, em 1976. De volta à Benedita, foi a 1 de Abril que abriu novo negócio, e não foi mentira nenhuma. Num pequeno espaço no restaurante O Bigodes, junto ao IC2, abriu uma barbearia. O espaço era pequeno, mas suficiente para ter duas cadeiras e algum material de electrónica, como rádios de banda do cidadão, que vendia aos passantes.
A MÁQUINA
Assim nascia a empresa “Máquina – Novidades Nacionais e Estrangeiras”. O nome era uma alcunha de juventude de Luís Fialho, que ganhou graças a uma bicicleta pasteleira pela qual tinha grande estima. Naquela altura, o IC2 era a via preferencial de ligação entre Lisboa e o Porto. O Bigodes e a loja de Luís Reis Fialho trabalhava 24 horas e, também por isso, tinha muita clientela e fama. O negócio e a loja cresceram. Ao material de eletrónica juntaram-se pequenos eletrodomésticos, lembranças turísticas, entre outros artigos. “Vendíamos de tudo”, recorda Luís Reis Fialho.
HIPERMERCADO EM POMBAL
De vento em popa o negócio continuou com apenas a loja da Benedita, até 1989. A oportunidade surgiu para alugar um conjunto de lojas em Pombal, com uma área de 500 m2. Nesse espaço começou por vender de tudo, menos artigos de alimentação. “Tínhamos ferramentas, artesanato, eletrodomésticos, vestuário, calçado”, conta Luís Reis Fialho. Ainda nesse ano outra oportunidade surgiu para mudar para umas instalações ainda maiores, com uma área de 2000 m2. Ao rol de artigos juntava-se então o ramo alimentar e nasciam os hipermercados Neomáquina.
“Foi aí que o negócio teve o grande boom”, diz o empresário, que em 1996 encerrava a loja no Bigodes e abria o supermercado na Benedita, onde se mantém actualmente.
Além dos dois supermercados, o grupo tem quatro lojas Mackvest, de vestuário. Duas nas instalações dos supermercados, as outras duas na Batalha e Ourém.
O grupo, que chegou a empregar 120 pessoas, assegura hoje cerca de 95 postos de trabalho. No ano passado teve um volume de negócios de 8,5 milhões de euros.
Nova geração trabalha para manter legado dos pais e a empresa moderna

Em 2016 Luís Fialho e Lídia Eugénio reformaram-se e passaram o negócio aos três filhos, Bruno, David e Tomás.
Apesar de o casal ainda visitar a loja e dar apoio aos filhos, é a estes que cabe, actualmente, toda a gestão do negócio da família.
“É um orgulho poder continuar o trabalho deles. É um desafio que dá muito trabalho”, refere David Fialho.
O objectivo da gestão dos três irmãos é manter a Neomáquina como alternativa aos grandes players do mercado. É que, tanto em Pombal, como na Benedita, a concorrência são as grandes cadeias de distribuição.
Para manter a empresa viável, não só é preciso ter uma oferta concorrencial, é preciso ter uma oferta melhor. E é essa a política da empresa, ter produtos de qualidade a um preço mais competitivo.
Isso consegue-se com estabilidade ao nível dos fornecedores, aposta em produtos de base regional, tanto ao nível da hortofruticultura, como das carnes de suino e bovino e também do pão. Além disso, a empresa pratica preços de referência dos principais produtos abaixo das grandes cadeias de distribuição e ainda acompanha estas ao nível das promoções .
“Temos uma boa base de clientes fidelizados que percebem e valorizam tudo isso”, refere David Fialho. Nos produtos de marca branca, cada vez mais procurados pelos consumidores, a empresa conseguiu o apoio do grupo Auchan.
Manter a empresa viável e apelativa e atractiva para os clientes envolve um trabalho e investimento constantes.
Ao nível da imagem, o sector obriga a uma actualização frequente, quer do interior, quer do exterior das lojas.
Em 2017 foi remodelado todo o exterior da loja da Benedita e em 2018 todo o interior da de Pombal. Para este ano a empresa está a planear a mudança visual de todo o interior do supermercado da Benedita.
Ainda este ano a Neomáquina espera lançar um novo negócio, um posto de abastecimento de combustíveis que também poderá ser associado ao cartão de cliente, que permite aos utilizadores descontar o saldo acumulado em todas as lojas do grupo.
Sombras de estacionamento alimentam loja com electricidade
A Neomáquina é uma empresa independente num sector dominado por algumas das maiores empresas portuguesas, mas nem por isso deixa de ter capacidade para inovar. Umas das maiores inovações foi instalada em Abril do ano passado, quando a empresa dotou a loja da Benedita de uma central fotovoltaica. A inovação consiste na localização do equipamento, que tira rentabilidade do espaço “morto” que constitui o parque de estacionamento.
Ao passo que os grandes grupos do retalho instalaram sombras de estacionamento em lona, a Neomáquina optou por tirar rendimento das coberturas que servem de abrigo aos automóveis, colocando aí os conjuntos de painéis solares que geram energia eléctrica.
“Em dias de sol somos uma loja autosuficiente em termos energéticos”, refere David Fialho. Isto significa que, nesses dias, a central consegue produzir toda a energia que o supermercado necessita para funcionar.
Além de tornar a loja mais amiga do ambiente, o equipamento gera uma poupança significativa para empresa, uma vez que a factura energética é considerável. A loja necessita de muita energia eléctrica para os frios, climatização e os fornos.
“Temos uma grande vantagem, que é estarmos a produzir a energia quando ela é mais utilizada, durante o dia”, acrescenta David Fialho. O gestor refere que a Neomáquina foi o primeiro supermercado nacional a optar por este tipo de sombreadores. David Fialho refere que o investimento inicial foi elevado, mas o equipamento tem um retorno assinalável.
“Em cerca de 5 ou 6 anos conseguimos recuperar o investimento com a poupança que este gerou”, conclui.