Festival de música das Caldas da Rainha regressou ao Parque D. Carlos I para três dias de intensa atividade, com mais quatro dezenas de concertos com grupos e artistas nacionais e estrangeiros, que atraíram cinco mil pessoas, sobretudo jovens
Foi ao som dos 5ª Punkada que arrancou a animação no palco principal nesta edição do festival Impulso nas Caldas da Rainha, que ficou marcada pelo regresso ao Parque D. Carlos I e por uma aposta na diversidade (imagem de marca do festival) e na inclusão.
O poder da música abriu o festival num concerto de alta qualidade, mas no qual faltou público. Os 5ª Punkada apresentaram, com Surma, Victor Torpedo e Rui Gaspar, o seu primeiro álbum, “Somos Punks ou não?”, editado quase três décadas depois do nascimento do projeto de musicoterapia criado no seio da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra.
A banda destacou-se pelos ritmos animados, mas também pela cumplicidade entre os seus elementos. Um grande concerto e uma inspiradora história de superação e de concretização de sonhos a abrir o festival. Seguiram-se os VVV (Trippin’you) e Conjunto Corona, antes de Scúru Fitchádu, outro grande momento da noite, com o regresso às Caldas da banda que animou o palco principal com ritmos dançantes e uma mistura de diferentes sonoridades e instrumentos.
O segundo dia do festival ficou marcado pela atuação dos Mão Morta, mítica banda de Braga que desceu às Caldas da Rainha para dar a conhecer ao público o seu novo álbum “No Fim Era o Frio”, uma narrativa distópica onde conceitos como aquecimento global ou subida das águas do mar são pontos para o questionar de diferentes paradigmas do quotidiano. O vocalista, Adolfo Luxúria Canibal mostrou-se em plena forma e mostra que a banda bracarense é como o Vinho do Porto e que o seu líder está cada vez melhor e aos 62 anos leva ao rubro a plateia ao interpretar com toda a garra clássicos do grupo “Velocidade Escaldante” e “E se depois”.
Antes, houve outra surpresa com os Club Makumba, projeto de Tó Trips (Dead Combo,) e João Doce (Wraygunn), ao qual se juntaram o saxofonista Gonçalo Prazeres e o contrabaixista Gonçalo Leonardo. Este último é caldense e juntos dedicam-se ao rock, ao jazz e aos sons de Mediterrâneo que colocaram os festivaleiros a dançar. Outro momento forte da noite ficou a dever-se ao projeto Puta da Silva, liderado pela a cantora afrotravesti goiana Áquilla Correia.
As canções falam as vivências dos travestis, da falta de oportunidades para se inserirem no universo artístico e como tal vivem a prostituição como meio de sobrevivência. A atuação contou com encenação dramática ao qual se juntou um exuberante bailarino, várias mudanças de guarda-roupa e muitas mensagens sobre género e sobre o direito à diferença. Foi mais um espetáculo que arrancou fortes aplausos dos presentes.
Mais público no último dia
O último dia foi o que recebeu mais visitantes. Maria Reis abriu a noite no palco principal, num concerto com a sua irmã, Júlia, mas foi com os Pluto que a tenda montada no antigo parque de bicicletas ficou mais composta. Os Pluto apresentaram alguns dos temas mais famosos, mas também o inédito “Túnel”. Fogo Fogo trouxeram o calor e a dança dos ritmos africanos, antes do encerramento do festival, ao som do Dj Branko. Entre os concertos atuava o Dj Lima Estrela, jovem lisboeta que estudou Som e Imagem na ESAD e que, apesar de residir em Lisboa, mantém ligação às Caldas. No recinto havia uma pequena feira de autor e uma carrinha de street food. Além da zona do palco principal, o festival contou com o Palco Grémio, no Céu de Vidro, que teve entradas gratuitas. Por lá passaram Lelie Amens, rally fantasia, Pedro Branco, Chima Hiro, NAH, Hidden Horse, Metamito, Maria Callapez, O Gringo Sou EU, Garcia da Selva, Luís Pestana, Aires, Lord of Confusion e os Bataclan 1950. Este último grupo abriu ,a 23 de junho, as conversas que se seguiram à apresentação de filmes do Doc Lisboa. Músicos falaram sobre o documentário sobre o grupo que feito há dois anos no bairro onde vivem: Chelas. Seguiu-se a atuação dos Medusa Unit, ensemble que dá continuidade ao projeto a solo (para violoncelo, eletrónica e objetos ressonantes) de Ricardo Jacinto, docente da ESAD e responsável do coletivo Osso. Música contemporânea e improvisada que cria verdadeiras paisagens sonoras, num projeto, sediado nas Caldas e que vale a pena seguir.
De Viseu para o Impulso
Pedro Marques veio de Viseu com a família para o festival Impulso especificamente para ver a atuação de Maria Reis.
“O concerto foi ótimo e está a ser incrível até agora, toda a gente é muito simpática e o espaço é magnífico, eu já conhecia as Caldas e é sempre bom voltar”.
Já Gonçalo Barros, que está a frequentar o mestrado de Design Gráfico da ESAD esteve em todos os dias do Impulso. “Para mim o melhor concerto foi dos Scúru Fitchádu, porque tem muita energia, mas foram três bons dias de festival, com uma oferta muito diversificada em termos de géneros”, resumiu, elogiando o regresso do Impulso ao Parque.
“É excelente, podemos respirar ar puro, mas é tapado, o que também é importante”, disse. Relativamente à existência da pista de clubbing, na Zona Industrial também foi elogiada pelo estudante. “Gostei muito e a existência dos autocarros é excelente, para ir e vir sem preocupações”, rematou. ■