2.Atenção/ Atenção

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João dos Santos
diretor da ESAD.CR do Politécnico de Leiria

Vamos sentir o que temos em mãos.
Começamos por fechar os olhos e colocar toda a atenção no peso que temos nas mãos. O jornal, o smartphone, … Ou talvez um teclado, um tampo de uma mesa ou um rato debaixo das mãos – sentimos o peso das mãos sobre aquilo em que pousam. Durante cinco minutos, a sentir a pele a ser pressionada. A atenção toda investida nesses pontos das mãos que tocam nas coisas.
Sentir o corpo durante cinco minutos é um exercício difícil. Realizo o exercício com os meus alunos de desenho, com os lápis nas mãos. O tempo que passa sente-se em todas as velocidades: normal, rápido, lento, interrompido, fora do corpo – mudamos das mãos para a imaginação, para as memórias e procuramos gastá-lo; do futuro chegamos a querer que os cinco minutos já tenham terminado. Sair daquela contagem e regressar, porém, cinco minutos depois.
Sentir o que temos em mãos. Parece que o primeiro minuto passa bem. Se calhar, chama-se primeiro minuto aos primeiros instantes. Terminados os cinco minutos perguntamos o que aconteceu a esse tempo, quantas durações teve e o que sentimos em cada. Passada esta experiência, estamos prontos para a retomar, conscientes agora de que a atenção flutua entre o que nos propomos fazer e outras coisas que a requerem, como a imaginação do tempo a passar ou os sons da rua.
O Vaso de Rubin é uma imagem do tipo biestável: ao olhar para a figura ou se vê um par de perfis de cabeças humanas que se encaram, ou se vê um vaso. A imagem é curiosa, pois ao fim de um período de tempo de atenção fixa o vaso passa a ser dois perfis ou vice-versa. Esta mudança dá-se para lá da vontade de quem olha. Mais ou menos de três em três segundos, uma coisa passa a ser outra, automaticamente. Não sei se se transforma diante dos meus olhos ou se simplesmente passa a ser outra coisa – há um buraco negro na minha visão, como uma interrupção. Sei que sempre que quero fixar o vaso, consigo fazê-lo, até voltar a transformar-se.
A atenção reparte-se, com felicidade, entre a tarefa que nos propomos realizar e os sequestros dos nossos afetos. É estável e não sei se lhe podemos chamar biestável – atento / atento – ou outra coisa. Ao decidirmos dar atenção a uma coisa criamos uma duração, com início marcado e fim aproximado, como este texto.
Este tempo pede a nossa atenção. Por agora, parece-se com uma ideia ou vontade.
Ainda não conseguimos descrever bem o que temos em mãos e sabemos que o mundo está a mudar. ■

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