A regeneração

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Telmo Faria
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Muito se tem falado de regeneração de urbana numa perspectiva mais ampla do que a requalificação de edifícios e infra-estruturas mas a verdadeira cultura de intervenção autárquica, a nível municipal e regional tem sido essa. Por mais estudos interdisciplinares, por mais planos estratégicos que existam, a lista de intervenções tem acabado por responder sobretudo à recuperação de prédios, à definição de equipamentos públicos, à requalificação de praças, de redes como saneamento e águas e à criação de ambientes com pendor tecnológico com a introdução na última década de redes de wifi públicas, nalguns casos gratuitas e abertas. Tudo isto é importante mas não chega! É preciso dimensão social e políticas de estímulo ao talento.
Por mais que se trabalhe o tema, o que parece ter acontecido é que o campo das utopias ou da imaginação não tem sido o motor dessa regeneração, apesar dos recursos.  A capacidade de sonhar novos ambientes urbanos parece muito afastada, respondendo-se sempre às necessidades imediatas que percepcionamos por um lado e por outro, dando respostas aos actores que existem com o campo de cada um perfeitamente delimitado. Ou seja, há uma fronteira muito nítida entre o que é do público e do colectivo, cujo “dono de obra” é o município e aquilo que pertence aos privados. A grande divisão dá-se sobretudo na economia. A uma autarquia parece socialmente vedado este campo e a um privado não lhe compete fazer cumprir uma política pública. Será que deve ser assim?
No passado sempre quis saber de dois tipos de indicadores de um modo mais regular do que outros. No caso, quantas crianças nasciam por ano? e quantas empresas eram criadas no concelho? Para mim são dois indicadores de vitalidade, que evidenciam nascimento, ou seja, fertilidade social e económica. Hoje, na vida privada, acentuaram-se as minhas preocupações sobre o número de novos negócios e sobre o que as pessoas andam a fazer de novo e de diferente uma das outras? Num país em que a investigação é essencialmente académica e universitária, ao termos milhares de jovens que prosseguem cursos de doutoramento porque não arranjam, nem criam o seu próprio emprego e ao vermos que a esmagadora maioria das empresas não tem condições para fazer I&D (talvez com a excepção de algumas empresas no sector farmacêutico), pergunto-me quanto mais tempo e desperdício de recursos públicos vamos precisar para inverter isto? Queremos mais emigração qualificada? Por outro lado,  assisto a uma indefinição e até mesmo a uma desorientação estratégica na maioria dos municípios ou então a resistências quando essa orientação existe, como se a estratégia fosse da Câmara e não para o Concelho.
Uma coisa é a ambição de se trabalhar em grandes multinacionais e ir-se parar às capitais europeias, outra é não perceber que pode haver projectos de vida altamente diferenciadores se quisermos ser inovadores no nosso próprio país. Em Óbidos, foi aberta a todos uma autêntica “linha de investimento” capaz de gerar ainda mais empregos e negócios inovadores com a construção de uma Óbidos Vila Literária. Esta é uma verdadeira estratégia colectiva onde TODOS podem participar, do público e do privado. E é um autêntico território da tal imaginação que tanta falta faz na regeneração urbana: a de conseguir pôr as pessoas a sonhar e a participar de coisas novas!

Telmo Faria
carbono21@me.com

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