Ano novo, Vida nova. Será? Estaremos dispostos a lutar por ela?

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Filipa Silva
Eng. Agrónoma – Consultora e Formadora

Nesta semana ouvi e li tantos ”Bom ano!”, ”Tudo de bom”, “Que seja um ano incrível e que todos os teus sonhos e objetivos se concretizem”. Dá-me a sensação que a maioria das pessoas consegue fazer um reset, parecendo que existe a oportunidade de começar as suas vidas do zero e esperar que o melhor aconteça. Acho importante trazer consciência e realidade ao que estamos a viver neste momento.
O ano de 2024 foi o mais quente já registado, marcando pela primeira vez uma subida da temperatura média global de 1,5ºC – o limite que temos tentado evitar desde o Acordo de Paris de 2015. Apesar das metas definidas para 2030, em 2024 ficou claro que essa corrida já foi perdida. Estamos ainda perante a maior crise de biodiversidade da nossa era, com declínio brutal de espécies e das populações de animais selvagens, comprometendo os serviços de ecossistema, e consequentemente a nossa saúde e sobrevivência. A nível de guerras e sofrimento no mundo, em 2024 registou-se um novo aumento dos conflitos, de acordo com os dados fornecidos pela ONG ACLED, estima-se que existam cerca de 50 países em todo o mundo a viver conflitos ativos, sendo a Palestina e a Ucrânia os dois principais focos de conflito armado a nível mundial. No âmbito político, é impossível ignorar a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, acompanhada pelo slogan “Drill, baby, drill”. Isso suscita uma profunda preocupação sobre o impacto que essa liderança poderá ter no futuro do mundo, das pessoas, dos conflitos globais e, especialmente, na nossa já fragilizada luta contra as alterações climáticas. Na Europa, o cenário também é preocupante, com uma clara viragem para a direita nas últimas eleições, tanto a nível europeu como em diversos países. Numa perspetiva nacional, 2024 foi um ano em que se agravou a perda de rendimento face ao custo de vida, com a crise habitacional a destacar-se como uma das questões mais preocupantes, tendo o custo da habitação em Portugal atingido valores recordes. Além disso, neste ano, o número de pessoas sem abrigo aumentou, não havendo soluções à vista para solucionar este grave problema.
Por isso a minha pergunta para os leitores é, vamos esperar que este seja um bom ano? É mesmo possível começar do zero? Não estamos apenas a continuar o período que acabei de descrever? O que é que realmente pode mudar? Será que, em vez de simplesmente desejar e esperar que o ano seja melhor, não deveríamos nos unir, organizar e agir para transformar esta realidade? Lutar por um futuro melhor, um ano de 2025 melhor? Em que seja possível pagar uma renda, comprar uma casa, pensar em constituir família, e que essa família tenha saúde e qualidade de vida ao longo de muitos anos? Do que é que estamos à espera afinal? Não há milagres que nos salvem do capitalismo selvagem, da política agressiva nem da crise climática. Será que é possível as pessoas pensarem no bem coletivo em vez do seu próprio conforto no momento de votar? Com estes decisores políticos, portugueses e mundiais, realmente não sei que melhor ano é que nos espera..
Como li num cartoon da Mafalda: “As pessoas esperam que o ano que está a começar seja melhor que o anterior.” Ao qual a mesma responde: “Aposto que o ano que está a começar espera que as pessoas é que sejam melhores”. Não podia concordar mais. Se queremos um ano melhor, trabalhemos para tal, trabalhemos em conjunto e apoiemo-nos por um bem comum. ■

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