Arte ao ar livre

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Brincar entre as esculturas do Parque faz parte da nossa memória infantil. A alegria do jogo da descoberta pode mediar a nossa relação com o património; sou avessa à imposição da seriedade, silenciosa e quieta, perante as obras de arte, embora esta também seja necessária.
Esculturas nos jardins não são raridade. Mas estas esculturas do Parque das Caldas têm algo mais a contar…
Na história europeia, conhecemos jardins embelezados por esculturas pelo menos desde a Antiguidade Clássica. São elas que enfatizam a teatralidade das amplas alas dos jardins barrocos ou que surpreendem entre as ruínas dos jardins românticos. Saindo para as praças públicas das cidades, monumentalizam-se para consagrar personalidades e momentos da história, irmanando os cidadãos numa identidade coletiva com os valores do Estado.

Além de lazer, o Parque afirmava-se como espaço de arte e educação

No século XX, os museus inseridos em parques começaram a preparar o caminho do visitante para o “templo das artes”, trazendo a sua escultura para o exterior. Assim davam à “estatuária a sua verdadeira expressão interpretativa no seu ambiente próprio: o ar livre”, como dizia Jaime de Oliveira, na revista “Mundo”, em setembro de 1957, a propósito da inauguração da exposição de Escultura ao Ar Livre no Parque das Caldas.
Esta era uma ideia pioneira de António Montês, primeiro diretor do Museu José Malhoa. O Parque já homenageava os dois grandes artistas das Caldas: desde 1927, numa das alamedas, fora colocado o modesto Monumento a Rafael Bordalo Pinheiro, de Teixeira Lopes, e em 1955, frente ao Museu, o Monumento a José Malhoa, de Leopoldo de Almeida.
Mas, Montês queria uma representação mais ampla, incluir e homenagear as gerações expostas entre as paredes do Museu. Selecionou cuidadosamente as esculturas para o ar livre, na sua maioria reproduções de exemplares existentes noutros museus ou espaços públicos do país. Temporariamente, em 1957 e 1959, aqui foram também exibidas as provas finais de curso dos artistas locais João Fragoso e António Duarte. Além de lazer, o Parque afirmava-se como espaço de arte e educação.
Montês inspirava-se sobretudo no estrangeiro, visitando e correspondendo-se com instituições como o Museu Kröller-Müller, em Otterlo; o fantástico Parque de Esculturas Vigeland, em Oslo; ou o Museu Rodin, em Paris.
À época, no país, apenas o Museu Nacional de Arte Contemporânea ensaiara um pequeno Jardim de Esculturas, sob a direção de Diogo de Macedo. Com a inauguração do Museu Gulbenkian, o aprazível jardim desenhado por Gonçalo Ribeiro Telles abre-se também à escultura. Seguem-se exemplos no Parque do Museu Nacional do Traje e no Parque de Serralves; recentemente, concretizam-se ambiciosos “museus de escultura ao ar livre” como o Museu Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso ou o Parque de Escultura Contemporânea em Vila Nova da Barquinha.
Nestes dias que advinham o verão, quando buscamos o bem-estar associado à natureza, deixemo-nos seduzir por estes museus fora de portas. A arte gera eixos de convívio e imprime significado ao nosso espaço público.

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