“Às vezes é no vazio que o pensamento faz eco.” – Mia Couto

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Sandra Santos
Diretora pedagógica

Vivemos numa era marcada pela cultura do imediatismo, onde a rapidez e a instantaneidade se tornaram comandos das nossas vidas.
A geração atual, em particular os jovens, está naturalmente influenciada por este fenómeno, que ganha forma com os vídeos de poucos segundos em plataformas como o TikTok, Instagram Reels e YouTube Shorts. Um estado de espírito cabe em 15 segundos; um episódio da vida em 30, umas férias em 60. Andamos em fast forward, à imagem da nossa rotina diária.
Este fenómeno de consumo rápido de informação e entretenimento tem moldado a forma como crianças e jovens percebem e interagem com o mundo. Habituados a uma avalanche constante de conteúdos curtos e estimulantes, muitos têm dificuldade em manter a atenção em atividades que exigem maior concentração e paciência. A leitura de um livro; o estudo prolongado; uma conversa mais profunda; ou simplesmente uma tarde sem “fazer nada” tornam-se desafiantes para pais e educadores. Para “agravar” a situação, chegam “as férias grandes” e corremos à procura de atividades estruturadas e de entretenimento constante, que preencham cada momento do dia das crianças, para que não haja pausas, porque não sabemos o que fazer com o silêncio, nem temos tempo (outras vezes paciência) para o “não tenho nada para fazer”.
De certa forma, estamos todos (não apenas os jovens) sem paciência para esperar. Desejamos respostas instantâneas, soluções para o imediato e resultados rápidos. Tal forma de estar tem influenciado a forma como nos relacionamos, como trabalhamos e como vivemos. Ao nível da sala de aula, enfrentamos o desafio de captar e manter a atenção dos jovens; no campo profissional naufragamos em notificações e, nas relações pessoais, por vezes sacrificamos a empatia e a compreensão por uma comunicação apressada. É necessário encontrar o equilíbrio, recolhendo frutos dos meios ao nosso dispor, mas não esquecendo o valor do tempo, da paciência e do próprio processo.
Que se aproveite, agora, as famosas “férias grandes” das nossas crianças/jovens, para que façam “pause”, para que explorem as suas próprias ideias, para que mergulhem no “faz de conta”, para que se aborreçam com os dias compridos que não cabem em “shorts”. Quanto a nós, adultos, que tenhamos a paciência “imediata” de os acompanhar nos tão aguardados dias em família e que saiamos cansados das férias, não porque não tivemos paciência, mas porque vivemos cada segundo dos seus silêncios, dos seus risos e das suas aventuras. ■

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