«Cadernos do Chade – dias de pó na fronteira do Darfur» de Sandra Ferreira

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Notícias das Caldas
Cadernos do Chade

Sandra Ferreira (n.1970) colabora no Programa Gulbenkian de Ajuda ao Desenvolvimento e trabalha há mais de 15 anos na área da Saúde – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste são alguns dos países nos quais coordenou projectos. Fundou os Médicos do Mundo em Portugal (2002) e dirigiu em Moçambique a Agência Espanhola de Cooperação (até 2005).
Da sua experiência no Chade em 2005 surgem estes «cadernos». O registo é pontuado por citações de T.E.

Lawrence, Marcel Proust, Fernando Pessoa, Gabriela Llansol e Scott Fitzgerald. O objectivo é «registar pedaços desse tempo» mas a dupla inscrição surge logo à chegada: «Estamos em 2005 mas este é o ano 1426 do calendário árabe; o Chade é um estado laico, usamos o calendário ocidental mas o tempo árabe está presente». Cinco dias depois da chegada, anota o desconforto: «Os telefonemas não chegam ao destino, a água não corre, o quarto não existe». A realidade é instável: «Refugiados, autoridades, população local e agências humanitárias compõem uma linha de frágeis equilíbrios». A vida num campo de refugiados é feita de rotinas: «Centenas de mulheres com crianças esperam à sombra a sua vez para recolher o suplemento alimentar conhecido por CSB Corn Soy Blend.» Forçados a fugir das suas terras no Darfur», uns são deslocados no Sudão, outros refugiados no Chade. Para todos, o mesmo problema: «Esta terra é dos árabes, os negros têm de sair». Perante as carências dos refugiados e das populações locais surge a pergunta («Como se define um pobre?») e aqui a resposta é «água, abrigo e alimentação». A água surge em primeiro lugar: «Aqui a água é simplesmente o limite entre a vida e a morte».  Perto do fim uma conclusão, provisória embora: «quando tudo falha a intervenção humanitária ainda faz sentido». E uma advertência: «O conformismo é o pior dos venenos da nossa sociedade».
Nota final – em 2012, 10 anos depois dos primeiros deslocados do Darfur, há 288 mil refugiados no leste do Chade, dispersos por 12 campos.
(Editora: Tinta da China, Apoio: Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento)