João Carlos Callixto (n.1977) assinou em 2005 o livro «Na terra dos sonhos» sobre a obra de Jorge Palma e é um dos autores da série documental de 26 episódios na RTP «Estranha forma de vida/Uma história da música popular portuguesa». Colaborou na «Enciclopédia da Música em Portugal no século XX», sendo responsável pela pesquisa discográfica.
«Nova canção portuguesa (1960-1974)», sendo o subtítulo deste trabalho pioneiro de cuidadoso inventário, sugere que a organização do livro é cronológica mas trata-se de um «Dicionário» de cantores e grupos de A a Z. Um trabalho deste género está sujeito a critérios: por exemplo na página 13 se explica a ausência de Luiz Goes e António Bernardino («renovadores da canção coimbrã») mas na página 192 Germano Rocha é apresentado como «divulgador das novas baladas coimbrãs». Outro aspecto insólito no critério de escolha tem a ver com a não presença da obra de José Cid que o autor do livro justifica com a sua «matriz rock» ou de Luís Rêgo só porque gravou no estrangeiro.
De qualquer modo este livro de 239 páginas constitui-se como um seguríssimo, vasto e (quase) completo inventário da música popular portuguesa entre 1960 e 1974. Ou seja – entre a «Balada do Outono» cantada por José Afonso a «E depois do adeus» cantada por Paulo de Carvalho. Além dos dados biográficos de cada cantor/a, o livro inclui fotos das capas dos discos (EP e LP) bem como os seus dados técnicos como data, editora, produção, técnico de som e estúdio de gravação. Um ponto muito importante neste livro é a identificação dos autores das letras e das músicas. No caso de Paco Bandeira na página 34 se explica que «Vamos cantar de pé» tem poema de Fernando Grade e música de Pedro Osório. Esta canção só não ganhou o primeiro prémio do Festival da RTP 1972 porque o autor da letra não quis suprimir um dos versos da canção, tal como sugerido pelo Dr. Oliveira Martins a Pedro Osório. Os versos em causa («gaivotas mortas no convés») eram uma alusão aos caixões de pinho com os soldados mortos na Guerra Colonial. A resposta do poeta («Não tiro uma palavra!») motivou o segundo lugar para uma canção cuja vida foi atribulada desde o início: Paulo de Carvalho não aceitou o convite dos autores, zangado com o júri do ano anterior e um jovem português residente em Paris veio prestar provas mas não foi aceite pela Valentim da Carvalho. Paco Bandeira foi a terceira hipótese. Mas isso já seriam outras histórias, outros caminhos, outras veredas. Como é o nome civil (Francisco Veredas) do intérprete de «Vamos cantar de pé», segundo classificado em 1972 no Festival da RTP porque a tímida «primavera marcelista» só aceitava alguns e não estava aberta a todos.
(Editora: Âncora, Capa: Sofia Travassos Diogo, Prefácio: Rui Pato, Apoio: Sociedade Portuguesa de Autores e Antena 1)