Estas palavras podiam ter sido escritas – e foram-no, no sentido das mesmas ideias, – há 5 ou 10 anos. Pouco mudaram os enquadramentos relativos às Caldas da Rainha, na perspectiva do termalismo. À parte a mudança de concessionário, não se fez a reabertura da actividade termal e o concurso para a reabilitação dos Pavilhões do Parque como hotel e a gestão dos espaços verdes merecem-nos dúvidas.
O termalismo é essencialmente saúde e relaciona-se com a geologia, a economia, a gestão, a botânica, o ambiente, o ordenamento do território, a arquitectura, o património, a cultura, o turismo. O conceito de cidade termal incorpora, por seu turno, o termalismo, a rede hoteleira, o comércio, a gastronomia e as actividades ligadas ao recreio, aos tempos livres e à prática desportiva, tornando esta cidade singular e um pólo turístico a nível regional.
Para além da concessão da água mineral natural, o papel do município das Caldas da Rainha é determinante, quando se justifica construir um projecto de desenvolvimento à escala da cidade, face à tradição termal, à vocação na área das ciências da saúde e a uma preocupação com o futuro, aproveitando a diversidade dos recursos endógenos, ambientais, económicos e humanos e favorecendo a salvaguarda do património, a construção de uma nova unidade termal e um projecto pedagógico.
Considerar o centro urbano como um Parque de Saúde e dar à urbe a dimensão de Cidade Termal passa por pressupostos fundamentais, sem os quais tudo poderá parecer mentira. Estas são questões estratégicas, políticas e técnicas, mais além do que procurar soluções pontuais para cada elemento, sem que se tenha uma visão de conjunto e transdisciplinar:
– Será que a abertura de um hotel de 5 estrelas se coaduna com uma actividade termal encolhida entre velhas paredes ou, antes, com a criação de raiz de um balneário moderno?
– Será que os públicos de um hotel de 5 estrelas e de um termalismo competitivo se conciliam com feiras no Parque D. Carlos I e com usos inapropriados para a preservação de uma ambiência própria e de uma fauna e uma flora sensíveis?
– Será que o abate de árvores centenárias apenas deve seguir um parecer ou, antes, outras opiniões técnicas e o pulsar dos afectos?
– Não será que os problemas do Centro Hospitalar do Oeste se prendem com a necessidade de um novo edifício fora de portas, com verdadeira dimensão regional e modernidade?
– Não será que as actuais instalações do Centro Hospitalar do Oeste se adaptam mais a um verdadeiro centro de saúde de retaguarda e especializado em valências coadjuvantes do termalismo e, também, à criação de um projecto pedagógico?
– Não será mais inteligente potenciar o valor histórico-cultural do Hospital Termal, mantendo nele uma actividade de uso da água mineral natural, mas dando-lhe uma dimensão patrimonial e museológica à escala mundial?
Aos futuros autarcas, designadamente, caberá responder a estas questões. Esta é a cidade que, sem o ser, poderá vir a ser termal, não só pelo calor das águas, mas também pelo bater do seu coração. O passado recente, porém, não incita o futuro.
Jorge Mangorrinha