António Manuel Venda (n.1968) organiza nestes dez contos uma memória, um decálogo, uma radiografia de um determinado município no qual o insólito convive com o trivial, o vulgar com o invulgar, o estranho com o comum. Como pode ler-se na contracapa: «há um presidente, alguns vereadores, os inevitáveis técnicos, uma empregada de limpeza, um tipo da inspecção (da capital), um ouriço-cacheiro com um cargo que não é nada de deitar fora, um bruxa, o diabo, secretárias, amantes, uma toupeira de risca azul, um ladrão, uma «préfeita» e pouco mais».
No conto «Ligação umbilical» a geminação municipal é para ser feita com um afinal inexistente município do Brasil: «Claro que o município de Tupirim de Parapapá não existia mas nunca ninguém se tinha preocupado em ir comprovar como uma simples busca num atlas.»
No conto «As grandes opções do plano» trata-se de um vereador e de uma assessora descobertos por uma empregada de limpeza os dois em cima de uma mesa da sala de reuniões a «tratarem das grande opções do plano». Depois de várias peripécias, a empregada de limpeza passa a auxiliar de acção educativa e no fim acrescenta: «Tenho é ideia de que a menina estava por cima».
Em «Então o homem já explodiu ou não?» uma nova vereadora queixa-se, por exemplo, de: «no seu município havia o costume, que classificou como «medieval», de o edifício da câmara fechar no dia dos anos do presidente., mesmo que este não fosse sábado, domingo ou feriado.»
Fica uma ideia apenas aproximada do livro de 87 páginas com dez contos que sem deixarem de ser municipais como refere o título tratam acima de tudo do factor humano que marca o fio da narrativa: o município é um pequeno mundo com sua luz e sua sombra, seus conflitos e entendimentos, suas guerras e seus momentos felizes.
(Editora: Just Media, Capa e grafismo: Paulo Escrevente, Imagem da capa: António Manuel Venda, Foto do autor: João Andrés, Apoio: Junta de Freguesia de Monchique)