Os Pavilhões do Parque são o conjunto arquitectónico mais emblemático das Caldas da Rainha. Este fascinante e monumental edifício representa para as Caldas da Rainha um valor equivalente ao dos Jerónimos para a cidade de Lisboa ou do Louvre para a cidade de Paris. Quando tinha seis anos já tinha um especial fascínio pelos Pavilhões do Parque. Certo dia, sentei-me à borda do lago e fiz um desenho com um enorme cisne em primeiro plano e os Pavilhões em fundo. Este desenho acabou por ganhar o primeiro prémio num concurso organizado à época pela Sociedade de Instrução e Recreio “Os Pimpões”.
Mais tarde, quando aprendi a ler, era um frequentador quase diário da biblioteca de instrução pública que estava situada num canto de um dos Pavilhões. Foi nessa biblioteca que descobri livros fascinantes, nomeadamente a coleção sobre os grandes arquitectos, que moldou efectivamente a minha vocação e formação profissional. Foi também nos Pavilhões do Parque que frequentei o ensino secundário, na então designada secção liceal do Liceu Nacional de Leiria. Os nossos bailes de finalistas aconteciam no antigo Casino, mais tarde Casa da Cultura, hoje em ruínas e a necessitar efectivamente de uma reabilitação atenta e respeitadora do seu valor patrimonial. E foi também no Salão Ibéria, que ocupava um dos espaços adjacentes aos Pavilhões e já demolido, que vi muitos filmes memoráveis, alguns deles ainda da época do cinema mudo, com acompanhamento ao piano.Tal como muitos milhares de Caldenses, tenho na verdade uma relação afectiva muito profunda com os Pavilhões do Parque.
Por isso, tal como muitos outros milhares de Caldenses, estou legitimamente apreensivo com o desenvolvimento de um processo apressado de concurso para uma concessão a privados dos Pavilhões do Parque por um período previsível de 48 anos. Compreendo e aceito que a iniciativa privada seja um actor relevante e indispensável para a sua reabilitação, nomeadamente através da mobilização do considerável investimento financeiro que o município e o Estado não querem assumir. Tal investimento, de risco elevado, deverá ter obviamente um retorno justo e adequado para a entidade privada que o pretenda considerar. Mas isso não isenta as autoridades públicas, o município das Caldas da Rainha e o Estado português das suas responsabilidades. E que responsabilidades são essas? Primeiro que tudo, a compreensão do valor patrimonial central dos Pavilhões no contexto de toda a estância termal das Caldas da Rainha. Os Pavilhões são efectivamente do Parque e, por causa disso, um projecto para os Pavilhões não pode ser desligado e autónomo de um projecto para o Parque D. Carlos I e Mata Rainha Dª Leonor. Todo o património da estância termal deve ser uno e indivisível e, como tal, deve ter um projecto global. Por exemplo, como equacionar um projecto para os Pavilhões do Parque sem uma previsão, no tempo e no espaço, da construção de um novo e moderno balneário termal? Em segundo lugar, para que um investimento privado nos Pavilhões seja viável e sustentável, é fundamental que o município caldense reforce a sua centralidade territorial e consequente capacidade de atração turística. Temos de fazer muito mais e melhor neste domínio. Em terceiro lugar, qualquer investimento privado nos Pavilhões deve garantir o respeito pelos diversos valores patrimoniais em presença, assegurando o acesso e a fruição dos cidadãos aos seus espaços mais significativos, que devem ter um carácter necessariamente público.