De Braços Abertos – Desemprego

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Vivemos momentos excepcionais que exigem de todos um empenho excepcional. Por motivos que cada um entenderá como suas convicções, a economia de Portugal está na penúria e uma parte significativa da sociedade – e não só a mais frágil e vulnerável – numa indigência mais ou menos declarada. Tenho para mim que a responsabilidade maior deve ser partilhada entre aqueles que enganaram e os que se deixaram enganar na escolha dos governantes, sobretudo na última década e meia, bem como por aqueles que se têm demitido das suas obrigações de cidadania, cuidando exclusivamente dos seus interesses pessoais.
Tivemos, na década de 90, a derradeira oportunidade de fazer as reformas económicas que se impunham, para as quais alertou Michael Porter no seu estudo sobre a competitividade da economia portuguesa. Não se fez! Tivemos, nos últimos dez anos, a oportunidade de fazer a tão necessária e postergada reforma do Estado e da Administração Pública. Não se fez! Não aproveitámos as estreitas janelas de oportunidade que tínhamos e agora estamos a pagar uma pesada factura, como era de prever e muitos alertaram para isso. Poucos se importaram! O leite derramou-se e, agora, não vale a pena chorar. As energias que nos restam devem ser usadas, com racionalidade, na busca de soluções eficazes para os problemas, sem prejuízo das responsabilidades, políticas e criminais, que deveriam ser exigidas a quem pecou por acção ou omissão.
O que fazer, então? Parte da resposta foi dada acima, no que diz respeito à reestruturação profunda da economia e do Estado, doa a quem doer. Mas, ao nível local, também se pode fazer muito, e o emprego é a primeira das prioridades. O pródigo Estado já mal consegue cumprir a sua função social, deixando o governo cair a sua esfarrapada bandeira da “sensibilidade social”. Tem, por isso, de ser a sociedade a mitigar a tragédia do desemprego e da pobreza, mobilizando-se para iniciativas extraordinárias que permitam ganhar tempo, enquanto se aguardam os resultados das ditas reformas que, obviamente, deverão ser lideradas por outros. Referimo-nos, claro, às situações de verdadeira carência, e não aos casos de oportunismo de quem se vale da desgraça alheia para obter ganhos ilegítimos ou manter estilos de vida ociosos.
Iniciativas solidárias contra o desemprego e a pobreza, é o que se exige de todas as instituições e cidadãos, amplamente divulgadas pelos meios de comunicação locais. Que cada um tenha uma ideia, crie um projecto, desenvolva uma iniciativa. Que se poupe onde for possível, se angariem patrocínios e se crie nova riqueza. Que se abram contas solidárias, se recolham bens novos e usados, e se aproveitem serviços voluntários à comunidade. Que cada estabelecimento de comércio e serviços, cada empresa industrial e agrícola, cada instituição pública e social, ocupe de forma útil mais um trabalhador ou prestador de serviços, a tempo inteiro ou parcial.
A segurança pública, a assistência social, a conservação urbana e o apoio turístico, são apenas alguns exemplos do muito que pode ser feito. Grandes ou pequenas, todas as acções são necessárias e bem-vindas, disseminadas pelas freguesias e localidades, sectores e ramos de actividade, empresas e colectividades. A autarquia, as associações empresariais, culturais e de solidariedade, e outros movimentos de cidadãos, devem dar o exemplo, liderando uma demonstração de criatividade, inovação e determinação no combate ao desemprego e à pobreza. É, não só uma obrigação, como também uma oportunidade. Está nas nossas mãos, se houver vontade e capacidade de organização.

 

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