Mónica Gaspar
psicóloga
Quando algumas mães se encontram, a conversa base gira à volta dos filhos e do que estes já fazem. A cada conquista, outra mãe rebate com uma conquista maior, mais extraordinária. Existe, em muitas de nós, uma vontade hercúlea de termos gerado uns seres não perfeitos, mas sobre naturais. O que pode dizer mais, sobre nós, do que sobre eles.
As mães socorrem-se de outras mães na esperança de obter respostas, de encontrar alguém que esteja a passar pelas mesmas dúvidas, de aliadas do dia-a-dia. Em muitos casos, na realidade, encontram uma concorrência e competição muito pouco realista, saudável e natural. Muitas mães parecem desejar um filho sobredotado. O que não é algo natural, não é típico do desenvolvimento da criança e nem sempre é algo maravilhoso.
O desenvolvimento, o crescimento, a maturidade e a aprendizagem não são uma corrida. E a verdade é que não existe medalha, para quem consegue fazer mais ou mais rapidamente. No desenvolvimento temos muitas variantes e um princípio a respeitar, o tempo individual de cada um.
As aprendizagens levam tempo, as crianças desenvolvem competências a ritmos diferentes, o fazer muito não significa fazer bem e por vezes até nos deparamos com regressões (o voltar atrás no que tinham aprendido) ou a perda de interesse.
Ambicionar e esperar tanta perfeição na infância pode deixar marcas irreversíveis no cérebro do adulto. Os pais que procuram a “excelência” e não permitem mais do que isto, podem facilmente, com essa pressão, desencadear falta de autoestima, ansiedade e mal-estar emocional. A criança cresce a achar que nunca é boa o suficiente, não é competente, não é digna. Pode até conduzir à educação de alguém que inibe as suas emoções, que mostra dificuldade em decidir por conta própria, de procurar sempre aprovação externa, perdendo a sua espontaneidade, de ajustar as suas emoções ao que os outros esperam, com falta de autonomia e incapacidade de decisão.
Os filhos perfeitos nem sempre saberão sorrir, amar ou conhecer o som da felicidade. Eduquemos para que façam aprendizagens ao seu ritmo, estimulando as aquisições próprias para a sua idade, a curiosidade, autonomia e amor próprio. E o surgir de dúvidas e incertezas, por parte de quem educa, não é necessariamente mau. Mas filtrem e questionem-se.
Deixem-me dizer-vos, vocês amam e sempre amarão os vossos filhos, façam eles a maior das descobertas ou tomem a pior das decisões. Não precisam de filhos perfeitos, porque isso, simplesmente, não existe. ■