Despedida do ano letivo

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Sandra Santos
Professora

No fim do ano letivo, as mochilas parecem mais leves. As capas dos manuais acusam meses de uso; alguns lápis ficaram pelo caminho; os dossiês “incharam” e já nem fecham como deve ser, no entanto, o que vai dentro dessas mochilas é muito mais do que o que os olhos alcançam.

Guardam-se folhas com contas feitas à pressa, palavras riscadas com alguma frustração, frases que nem sempre receberam aplausos, mas que, por dentro, foram motivo de orgulho. Guardam-se perguntas que deram origem a descobertas e outras que foram além da sala de aula. Há palavras novas, de vocabulário e de mundo, que entraram pela porta da sala e ficaram. Algumas vieram escritas nos livros, outras chegaram em conversas, e muitas nasceram da convivência diária com os outros.

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Levam-se memórias: do primeiro dia, dos primeiros medos, do primeiro teste. Levam-se os risos do recreio, os segredos partilhados no corredor, os olhares trocados às escondidas. Levam-se silêncios cúmplices e zangas que duraram pouco. Levam-se os gritos de “penálti” do campo de jogos e as corridas até à fila do refeitório.

Nas mochilas vai também o gesto de um colega que partilhou um lanche. Vai o calor do abraço de uma professora no dia em que tudo parecia correr mal. Vai o sorriso de um auxiliar, acompanhado da pergunta sincera “estás melhor hoje?”. Vai o “bom dia” que sai da portaria para despertar.

Carregam-se vitórias: a coragem de apresentar um trabalho à turma; o orgulho de ter sido delegado de turma; a conquista de ter aprendido a ler; a descoberta de um livro que fez companhia. Mas também se carrega o “menos bom”: a nota que não correspondeu ao pretendido; a resposta errada; a repreensão. Em suma, tudo o que faz crescer.
Nas mochilas de fim de ano vai o tempo. O tempo que se dedicou a tentar. O tempo que se esperou por outro. O tempo que se ganhou em sorrisos. Vai a paciência dos professores, o esforço de quem orientou, o carinho de quem cuidou.

E, no meio de tudo isto, há um detalhe curioso: nada disso pesa. Ninguém se queixa de dores nos ombros por levar gestos de ternura ou palavras que transformam. Todos correm alegremente com esta “mochila” às costas. São aprendizagens de vida que marcam o caminho e que não desaparecem com a distância trazida pelo verão.

No final do ano letivo, o cansaço está estampado no rosto de alunos, professores e auxiliares, mas a avaliação final, aquela que fica na pauta da memória, não é quantificável nem cabe em quadros de mérito. É aquela que nos diz: tudo valeu a pena.
Afinal, todos carregamos mochilas cheias que não pesam. Talvez seja essa a mais bonita herança de um ano letivo: saber que crescemos juntos, mesmo sem darmos conta.

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