A Comissão Cívica de Protecção das Linhas de Água e Ambiente vem manifestar a sua posição relativamente ao teor do artigo publicado neste Jornal no dia 10 p.p.,da autoria de Rui Gonçalves, intitulado “Veremos se temos, ou não temos Lagoa”.
Afirma Rui Gonçalves que “(…) a Lagoa tem mais areia e poluição do que água. Ninguém viu, nem se incomodou, não exigiu, nem reivindicou e vários governos ignoraram a importância deste património natural (…)”.
Estas afirmações de Rui Gonçalves revestem enorme gravidade e injustiça: colocam em causa todos quantos desde há muitos anos têm trabalhado activamente, pugnado por uma luta sem tréguas na defesa da Lagoa de Óbidos.
Os resultados até agora alcançados foram os desejados e com a celeridade que se impunha? Certamente que não.
Mas nem assim esta Comissão algum dia desistiu ou deixou de lutar.
A Comissão iniciou há mais de 13 anos a luta incessante em prol da Lagoa, a qual teve início aquando da entrada em funcionamento da ETAR, sendo sua “bandeira” conseguir que a ETAR fosse capaz de fazer os tratamentos primário e secundário; tal implicou proceder a alterações de fundo em parte considerável do saneamento da cidade e também à despoluição das linhas de água e rios; como resultado de ambas as medidas conseguiu diminuir-se a poluição da Lagoa de Óbidos.
Assim, Rui Gonçalves terá andado razoavelmente desatento…
Repare-se que no decurso de todos estes anos a Comissão Cívica de Protecção das Linhas de Água e Ambiente se deslocou amiúde à Lagoa, acompanhando partidos políticos e meios de comunicação social que manifestaram interesse nos problemas da mesma.
A Comissão promoveu e realizou vários debates sobre a Lagoa; realizou várias deslocações à Assembleia da República, onde manteve reuniões com vários partidos com representação parlamentar; instruiu vários processos contra o Estado Português junto da UE, que resultaram na condenação do Estado ao pagamento de avultadas multas e ao cabal esclarecimento do destino dado a algumas verbas recebidas destinadas à Lagoa de Óbidos.
Em suma, as palavras de Rui Gonçalves corporizam um acto de contrição, um “mea culpa”, quando refere que (…)”Nunca ninguém percebeu isto e FOMOS assistindo passivamente à degradação de ambos”.
Mas Rui Gonçalves apenas pode referir-se a si mesmo, ou, quando muito, ao seu partido, ao utilizar o termos “fomos”. Esta Comissão não se revê, nem poderia, nesta “pluralidade”.
Rui Gonçalves põe um ênfase tal nas palavras que usa para se exprimir que acaba por “dar um tiro no seu próprio pé”.
Melhor explicando:
Rui Gonçalves que, como membro do CDS/PP, que integra a coligação que governa Portugal há anos, tem, por essa razão e nessa medida, responsabilidades acrescidas; e não há memória de o CDS/PP ter manifestado verdadeira preocupação na resolução dos problemas da Lagoa e com a preservação do seu ecossistema; menos ainda de ter tomado medidas efectivas nesse sentido. E a inércia e ausência dessas medidas contribuiu para protelar as soluções e agravar os problemas da Lagoa.
Por fim, referir-nos-emos também à menção de Rui Gonçalves ao “Hospital”.
Diz ele que “O Hospital encerrou definitivamente. Ninguém viu, nem se incomodou, não exigiu, nem reivindicou e vários governos ignoraram a importância deste património (…)”.
À falta de especificação do autor, a Comissão Cívica de Protecção do Hospital Termal presumiu (resta saber se bem) que Rui Gonçalves se referia a esta unidade hospitalar. Porém, em rigor, importa informar que nenhum Hospital em Caldas encerrou: nem o Distrital, nem o Termal.
Ambos têm serviços a funcionar, embora nenhum deles em pleno.
Ignorará Rui Gonçalves que a Comissão de Protecção do Hospital Termal realizou um abaixo-assinado contra a privatização do Hospital Termal e seu Património, entregue na Assembleia da República, e cuja deliberação foi publicada em Diário da República?
Não cremos.
Rui Gonçalves também não ignora as várias iniciativas e eventos de sensibilização, esclarecimento, defesa, protecção do Hospital Termal e demais Património levadas a cabo por esta Comissão. Porque em algumas delas esteve presente.
Ou seja, Rui Gonçalves tem conhecimento do intenso e árduo trabalho desenvolvido pelas Comissões Cívicas de Protecção do Ambiente e de Protecção do Hospital Termal.
A opção tomada por ignorar esse trabalho e esforço hercúleos, a dedicação e preocupação sempre presentes e evidentes ao longo de vários anos só o próprio saberá explicá-la.
Rui Gonçalves chegou e disse.
Mas não disse tudo.
O que é uma pena
Vítor Diniz
António Peralta
(Comissão Cívica de Protecção das Linhas de Água)
NR- Gazeta das Caldas deu conhecimento desta carta ao visado, que nos enviou a seguinte resposta:
…Disse… e voltava a dizer
Quando tomamos opções, apontamos caminhos e os tornamos públicos, ficamos sujeitos a críticas, às vezes até boas, mas normalmente más e por vezes até mal-intencionadas, ou a ser mal interpretados.
E quando assumimos uma opção política, essa possibilidade aumenta substancialmente.
Na participação que tenho como cronista trissemanal neste prestigiado jornal e na sequência do honroso convite que me foi endereçado, iniciei essa participação com uma crónica sobre o Hospital Termal e o termalismo, à qual se seguiu no dia 10 de Abril, outra sobre a Lagoa.
Pensava eu que tinha sido claro ao apontar aqueles que em meu entender são corresponsáveis, pela situação de calamidade a que ambos os recursos chegaram, quando assinalei as entidades públicas, os eleitos e esses sim, os politicamente responsáveis pelo bem comum e como tal pela defesa desses recursos. Foi exclusivamente e essas entidades que me referi. Houve quem percebesse e pelos vistos quem não tenha percebido.
É evidente que diversas organizações e até algumas pessoas de forma individual, se têm destacado ao longo dos anos pela sua entrega, dedicação e esforço, à defesa quer do Hospital Termal, quer da Lagoa. E se no caso da Lagoa, estamos a chegar a uma possível solução, em grande parte, a elas se deve. O esforço e dedicação dessas organizações e pessoas, é público, notório e reconhecido.
Penso que ninguém atento, desconhece o trabalho que tem sido feito pela Comissão de Proteção das Linhas de Água, que agora e mais uma vez, aqui vem relatado por dois dos seus mentores e que eu próprio já tenho elogiado publicamente. Mas não podemos esquecer ações de outras entidades, particulares e até partidárias. Apenas como exemplo, não posso deixar de destacar, no que à Lagoa diz respeito, o trabalho do João Penedos, o principal mentor da Petição “Pela Salvaguarda da Lagoa de Óbidos”, ou no caso do Hospital, da Comissão de Utentes Juntos Pelo Nosso Hospital, são apenas exemplos.
Não necessitam no entanto estas entidades, de ser repetidamente referidas e elogiadas. Estando envolvido como estive, em muitas das ações, não era portanto possível esquecer o trabalho dessas organizações. Penso mesmo que o fizemos por considerarmos que era um dever cívico.
Mas a minha preocupação e interesse pela causa da Lagoa não é de agora, nem nasceu do nada. A título de exemplo, refiro um trabalho de cariz académico, intitulado “Análise Territorial da Lagoa de Óbidos” publicado em 2006, como base e preparação para a minha tese de Mestrado, que teve por título “A Paisagem no Oeste – Uma Proposta de Catalogação”, publicada em 2007, onde voltei a considerar a Lagoa, como espaço territorial para aplicação do método de catalogação que defendi.
Estes estudos, tiveram o eco que na altura este e outros jornais da região entenderam por bem dar-lhes e não mais lhes dei uso em defesa de qualquer mérito. O que fiz, foi porque quis e por dever de cidadania.
O Vítor Dinis e eu, ambos sabemos que tive outras preocupações relativas à Lagoa e basta nós sabermos.
Já quanto às referências políticas feitas ao CDS-PP, partido a que pertenço, sem subterfúgios nem reservas e como é público, de facto ele esteve no governo oito anos, nos 41 que temos de democracia, quatro dos quais nesta legislatura. E por ironia, foi exatamente este governo que desbloqueou o conjunto de duas grandes intervenções, que agora vão ter início, num investimento de cerca de 13 milhões de euros e que poderão finalmente salvar a Lagoa, assim esperamos. Isto bastava. Mas mais curioso e irónico, é o facto de ter sido ainda uma ministra do CDS-PP, Assunção Cristas, quando tinha a “pasta” do Ambiente, quem iniciou o processo relativo a estas intervenções.
Que elas tenham sucesso e a Lagoa se salve, como todos queremos e esperamos, é a única coisa que me importa.
Rui Gonçalves