Ensino não presencial

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Maria do Céu Santos
Maria do Céu Santos

Há sobressaltos que fazem avançar o mundo, situações de crise, de emergência, de guerra, que obrigam a repensar velhos hábitos e a procurar novas soluções que, apesar de terem caráter provisório, acabarão por influenciar rotinas futuras.
Vem isto a propósito dos novos desafios que as Escolas enfrentam desde o dia 16 de março, com a suspensão das aulas presenciais, face à necessidade de confinamentos dos alunos e das famílias, único meio para enfrentar a ameaça silenciosa e perversa dum inimigo desconhecido.
Os nossos professores, uma vez mais, estiveram à altura das suas imensas responsabilidades, enfrentado com entusiasmo e criatividade o imenso desafio que veio pôr em causa as suas rotinas pedagógicas. E a menor competência tecnológica de alguns não foi usada como desculpa, havendo casos em que os professores começaram por pedir aos alunos a sua ajuda na iniciação ao mundo das plataformas virtuais.
Face às limitações próprias de uma alteração tão profunda quanto súbita, sem qualquer preparação prévia, podemos afirmar que a experiência foi um sucesso.
Há, no entanto, algumas reflexões que se impõem, a partir da experiência no terreno, como se sugere na Nota do Ministério da Educação (ME) sobre a implementação do Ensino à Distância (E@D) nas Escolas, na qual se refere que «Cabe a cada Escola, em função da fase em que se encontre e da sua realidade, refletir sobre os princípios apresentados e desenvolver o seu Plano E@D, encontrando as respostas mais adequadas e potenciadoras do sucesso educativo dos alunos».
O problema mais preocupante reside na escassez de meios, suscetível de contribuir para o aprofundamento de desigualdades sociais, incumbindo aos Estado um investimento urgente junto das famílias mais carenciadas, com a disponibilização de meios informáticos e de internet.
Cumpre, por outro lado, harmonizar procedimentos, dado que se verifica a utilização de um excesso de plataformas por parte dos docentes: Google Classrom, Skype, SMS, correio eletrónico, Zoom, WhatsApp, TEAMS (esta usada com alunos-atletas), Moodle, Google Meets, etc.
Haverá também que ter em conta ajustamentos pontuais, porque neste momento aprendemos todos a lidar com uma nova realidade. De um modo geral, as reações das famílias têm sido muito positivas, enaltecendo o esforço dos docentes. Registam-se, no entanto, algumas queixas relativamente ao excesso de trabalho enviado pelos professores das várias disciplinas, e aos prazos apertados para a resolução das questões, tendo em conta que, na situação que atualmente se vive, os alunos não têm quem lhes explique as matérias, revelando alguma dificuldade em ler e interpretar sem apoio as indicações que lhes são transmitidas.
O ensino não presencial no ambiente de confinamento torna atual a discussão sobre a autonomia e autodisciplina do aluno habituado a “explicações” desde o 7.º ano,
Mas esse é o tema da próxima crónica.

Maria do Céu Inácio Santos