Patrícia Oliveira
técnica superior do Ministério da Educação
A escola já não é o que era. Dizem…
Não há quadros de ardósia e paus de giz, as carteiras de madeira deram lugar às de plástico.
Quadros interativos, tablets e aulas online vieram revolucionar o dia a dia da escola.
Uns andam quilómetros a pé para chegar à escola numa vontade desenfreada de ler os livros gastos, e brincar com carrinhos de rolamentos e brinquedos feitos de madeira.
Sem mochilas de marca ou estojos com purpurinas, sonham no que a escola lhes pode dar.
Do outro lado (“nos países ricos”) outros são deixados pelos pais ao portão da escola, transportados no carro quentinho e confortável.
Com telemóveis topo de gama, ténis da moda, vão desmotivados sem vontade de aprender e com medo, apenas porque o rufia da turma lhes vai bater no intervalo grande.
A escola já não é o que era. Dizem…
Antigamente o professor era um dos mais ilustres da terra, assim como o médico e o padre, conta a minha mãe, professora aposentada.
As turmas eram grandes, mas davam-se as aulas de forma tranquila, lá de vez em quando um ou outro aluno fazia algum disparate…
O “Manuel” ia para casa cheio de medo porque o pai ou a mãe já sabiam que ele se portara mal na escola, e reiteravam o ralhete da professora!
A direção de turma do Professor José, dá-lhe “água pela barba”, alguns dos pais gritam e esperneiam na sala de DT, quando são chamados, porque os filhos faltaram a várias aulas ou disseram asneiras na aula de Português.
A escola já não é o q era. Dizem…
Às 21h00, a escola torna-se o porto de abrigo, o lugar seguro, para onde o “Rui” vai depois de fugir da instituição onde vive, refugiando-se no gabinete do diretor que ainda trabalha, mas que o recebe e o aconselha a regressar e a enfrentar os seus medos.
A escola é onde muitos recebem o que não têm, é onde lhes dão a oportunidade de serem o que nunca seriam sozinhos.
É onde mães e pais imigrantes, entram, pedindo ajuda porque se sentem abandonados pelo sistema que é lento e burocrático.
Porque a escola já não é o que era!
A escola é um lugar onde o “João” passa a maior parte do dia… onde desabafa com o psicólogo porque os pais se estão a divorciar, é o lugar onde a assistente operacional dá um abraço à “Maria” e é onde o professor diz ao “Pedro”… “Força… tu consegues!”
É onde a”Alice” tem refeições gratuitas porque em casa o dinheiro não chega para pagar as contas.
Quando eu andava na escola primária, o meu pai ajudava-me a fazer os trabalhos e lia-me uma história antes de dormir, conta o “António”, já a “Letícia” conta com a lágrima no olho que a mãe não a pode ajudar porque trabalha por turnos, e mal se vêem.
Porque a escola já não é o que era! ■