Eu amo demais os meus filhos

0
434

Venho através desta carta pedir-lhes que me façam o favor de expor o meu caso publicamente através da Gazeta das Caldas.
Está a fazer três anos que luto pelos meus filhos, que me foram tirados por falta de condições.
Fui pedir ajuda às senhoras técnicas da Segurança Social e em vez de me darem uma ajuda, acharam melhor levá-los para centros de acolhimento, separados uns dos outros. Os mais pequenos ficaram aqui nas Caldas da Rainha na Misericórdia, os mais velhos foram para Ourém.

O único argumento que tiveram foi que os 500 euros que ganhava não era o suficiente. Arranjei condições, trabalho, paguei advogado, dois anos depois tive de pedir apoio jurídico porque a decisão que tomaram entre as técnicas da Segurança Social, as directoras dos centros e o Ministério Público, foi a adopção. Porque a mãe, além de ser solteira e não ganhar o suficiente, as crianças precisavam de ambiente familiar. Digamos que além de ganhar pouco ter uma vida honesta, acharam que se estava só, não tinha esse ambiente familiar, não tenho companheiro, pois hoje em dia não se pode confiar em ninguém.
Na altura os pequenos tinham um ano e meio, a irmã três anos e meio. Os mais velhos seis e 11 anos. Agora estão com quatro e meio, seis e meio, nove anos e 14 anos.
Assim que me tiraram o poder paternal, a minha filha de 14 anos fugiu de Ourém, do lar das meninas, com outras quantas colegas. Ela era a mais nova de todas e a única menor, as outras tinham 18 e 20 e tal anos.
Chorei, pedi por tudo no Ministério Público que me dissessem, por favor, se a minha filha estava bem (…).
Não me quiseram dizer nada. A única coisa que me responderam foi que, além de eu ter perdido o direito aos meus filhos, que não me podiam dar essa informação. Isto há sete meses. Tenho rezado, pedido a Deus que ao menos não tenha acontecido nada.
O que a minha filha falou a um agente da PSP foi que vinha para o pé da mãe, que a deixasse vir dar-me um beijinho. Isto dito por um deles e que depois ficou registado.
Está a fazer sete meses que não os vejo, as saudades são tantas, olho fotos, roupas, os pertences deles e choro dia e noite. Eu amo demais os meus filhos. Queria tanto voltar a vê-los. Isto tudo porque sempre quiseram o mais pequeno para adopção.
Os meus filhos para mim têm o mesmo valor, amo os quatro de maneira igual. Não há diferença. (…) Para mim tem sido um tormento não sei mais o que faça, a quem recorrer.
Pensei neste meio, a Gazeta das Caldas, e espero sinceramente que me possam ajudar pois tiraram-me os meus filhos injustamente porque não abri mão do pequeno.
Culpo-me por os três sofrerem por o não ter feito, mas não fui capaz. Culpo-me, mas não me arrependo. Sinceramente não voltaria atrás, nunca.
Não tenho forças para trabalhar porque quando as tinha, enquanto lutava pelos meus filhos, ainda via os meus pequenitos duas vezes por semana, as minhas mais velhas uma vez por semana. Por estarem em Ourém, aproveitava a minha folga. Em dois anos e meio nunca falhei uma visita. Agora que não os vejo, há quase sete meses, perdi as forças para tudo e só faço é ficar em casa sentada a chorar. (…)
O único argumento foi o que falei no início da carta, que não ganhava o suficiente para os sustentar, mas se existe a Segurança Social é para ajudar as famílias, devia ser para manter as crianças no seu seio familiar, não tirá-los para centros de acolhimento. (…)

Paula Oliveira

NR – Gazeta das Caldas deu conhecimento desta carta à Segurança Social de Leiria, tendo recebido a resposta seguinte:

“A avaliação operacionalizada pela Segurança Social no caso apresentado foi realizada à luz da Lei de Promoção dos Direitos e Proteção de Crianças e Jovens em perigo, orientada pelo princípio do superior interesse das crianças e da sua privacidade (que engloba o respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada).
Mais se informa que foram ainda respeitados os princípios da intervenção mínima, na medida em que foi exercida exclusivamente pelas entidades consideradas indispensáveis à efetiva promoção dos direitos e à proteção das crianças, bem como foi efetivada de modo a que a progenitora assumisse os seus deveres para com os filhos, tendo sido delineados planos de intervenção e acionadas ações de acompanhamento.
Não obstante o exposto e, considerando que os resultados não foram satisfatórios, o Tribunal competente proferiu as decisões que considerou constituírem as que melhor protegiam os interesses e os direitos das crianças”.

Maria do Céu Mendes
Diretora do Centro Distrital de Leiria Instituto de Segurança Social