Pobres bichos
Hoje trago uma história tristemente triste e infelizmente verdadeira do país real. Domingo à noite, algures num bairro das Caldas.
Um cão abandonado, visivelmente maltratado e com uma orelha ferida, aproxima-se de uma família e “pede” para entrar num prédio, claramente pedindo ajuda. Com uma informação anterior que, nesses casos, se deve ligar à GNR, assim se fez. A GNR disse para ligar à PSP. A PSP chegou duas horas e meia depois e apenas para verificar se o cão tinha chip. Não recolheu o animal e disse que, nestes casos, se deve ligar para a Câmara, que tem um piquete de serviço. Mas ao mesmo tempo que deu esta informação, lá disse também que desse serviço ninguém iria atender, o que obviamente aconteceu…
(O cãozinho dormiu num terraço privado do prédio. Caso contrário teria continuado a vaguear no bairro…).
Segunda-feira de manhã, novo dia, vamos ver o que aconteceu. Ligou-se para a Câmara, a veterinária estava fora em vacinação e não se sabia se voltaria à Câmara nesse dia. Ligou-se para o canil municipal e foi explicado que o canil está lotado e que não pode recolher o animal, mas apenas divulgar no Facebook… Também informaram que todas as associações locais estão sobrelotadas. Perante a explicação de que o animal iria ficar à deriva, sem cuidados básicos e colocando em perigo pessoas, outros animais e mesmo podendo vir a causar acidentes no trânsito, o funcionário disse compreender, mas não poder fazer nada.
(O cãozinho, sem condições para continuar a ficar no terraço do prédio, passou para a rua, onde tem comida e água e uma manta para dormir).
Não sei se lá continua, imagino que sim. À hora em que escrevo, terça de manhã, não sei ainda de nada. Espero que continue. E sobretudo que não ande a vaguear, doente, cheio de parasitas, à fome, pela cidade. É pelo bicho, claro, mas é pelos miúdos e graúdos que andam na rua, que podem ser atacados. É pelas doenças que pode transmitir. É pelos carros que passam e pelos acidentes que o cão pode causar…
Entretanto mil telefonemas e insistências para as associações locais (CRAPAA, Rede Leonardo), que estando cheias a abarrotar, estou certa que hão de encontrar uma solução. Mais dia menos dia, estou certa que sim.
A questão não é este cão. A questão é não termos uma resposta, eficaz e na hora, para casos como este que sucedem diariamente, de animais sem dono que erram pelas ruas. Os animais têm direito, têm os seus direitos e são credores de respeito e atenção por parte da comunidade. Porém, em casos como este, são também a saúde e segurança públicas que estão ameaçadas, fortemente ameaçadas.
O problema dos animais sem dono, ou abandonados por alguém, é complexo e não se resolve em duas penadas. É da responsabilidade pública autárquica, uma responsabilidade partilhada pela sociedade civil (associações, particulares). Sabendo da limitação de recursos existentes, mesmo em termos de capacidade/lotação dos espaços disponíveis, é preciso pensar soluções alternativas. E mesmo havendo espaço nos canis/gatis, também não é solução fechar os animais para sempre numa vida de clausura e sem uma família de adoção.
É preciso pensar em conjunto e tomar providências concretas para resolver os problemas que se vão colocando no que diz respeito aos animais ditos de companhia e abandonados à sua sorte. E, nesse quadro, é fundamental é que haja soluções de emergência para casos como o que hoje relato, que se passa aqui ao pé, pertinho de nós, na nossa cidade.
Cristina Rodrigues
cristina.rodrigues@iefp.pt