
Professora
Nestes tempos sombrios de pandemia, o pavor do contágio afastou a administração pública dos cidadãos, erguendo barreiras acrílicas e outras, todas consideradas insuficientes para a proteção dos funcionários no atendimento.
A solução foi a criação de plataformas digitais, sediadas algures na capital, nas quais o cidadão se inscreve, ficando a aguardar o dia e hora em que se deve dirigir ao serviço público ali ao lado.
O atendimento nunca mais foi o mesmo, incluindo nos serviços de saúde: espera lá fora, entra um de cada vez, só com marcação pela Internet.
Há, no entanto, uma exceção de que poucos falam: as Escolas.
Todos os dias entram na minha Escola (e noutras da cidade) cerca de 1300 alunos, que cruzam e partilham o mesmo espaço com centenas de professores e dezenas de funcionários. Ninguém fica de fora. Há lugar para todos.
Todos os dias uma classe com muitos elementos com idade superior a 60 anos enfrenta turmas de vinte e oito alunos, cumprindo uma missão de risco, sem desertar.
As direções das Escolas, para além da preocupação com os seus alunos, professores e funcionários, convivem diariamente com o pavor dos pais e encarregados de educação, alguns compreensivos, outros nem tanto, cumprindo todas as regras, mantendo a serenidade possível.
A verdade, dizem os números, é que, até agora, os pouquíssimos casos de contágio verificados não aconteceram na Escola, mas lá fora, onde não se cumprem as regras com o mesmo rigor.
Professores e funcionários garantem o funcionamento dum serviço essencial à cidadania e ao país
É devida uma palavra de reconhecimento aos professores e funcionários, que na linha da frente garantem o funcionamento dum serviço essencial à cidadania e ao país.
Neste cenário sombrio que põe à prova a coragem e o sentido de missão dos professores, deparamo-nos com uma curiosa notícia no Público de 20.10.2020: pelo menos 800 professores dos que ainda estão em falta recusaram a colocação numa escola porque iriam ganhar entre 555 e 750 euros líquidos, com a agravante de terem de se afastar da família, deslocando-se muitos quilómetros, para outra cidade, preferindo, por razões óbvias, aceitar um qualquer emprego indiferenciado, talvez numa caixa do supermercado ali perto.
Se nada se alterar, se o Estado não investir na dignificação da classe docente, não vai ser fácil recrutar professores para suprir a escassez que se tem vindo a agravar nos últimos anos.
Num momento de constrangimento da comunicação entre os cidadãos e uma administração pública refugiada por detrás de plataformas digitais, em que o cidadão desespera por um atendimento nas Finanças, num Serviço de Saúde, ou em qualquer Conservatória, as Escolas constituem um modelo, onde se prova que, desde que se respeitem as regras, é possível, apesar da pandemia, garantir a continuidade da prestação de um serviço fundamental ao país e às famílias.
Na linha da frente, os professores honram a sua função, adaptando-se às novas tecnologias de comunicação, assumindo riscos pessoais, enfrentando todos os dias salas de aula, porque a vida não pode parar.