Não deixem as bicicletas em casa…

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João Silva
professor

Caldas da Rainha, segunda-feira de manhã, pais, alunos, professores e transeuntes desesperam no trânsito de uma cidade pequena, mas que padece de problemas típicos de grandes cidades. Claro que o congestionamento de tráfego não acontece em todas as artérias da cidade, mas onde há uma escola o caos acontece. Buzinadelas, palavras irrefletidas, impropérios, no fundo, tudo aquilo que não se devia verbalizar. Mas há mais, muito mais. Estacionamentos em fila dupla, em contramão, em cima dos passeios, nas passadeiras, … Tudo o que é transgressão acontece. Assistimos a uma “ode” de exemplos para os nossos jovens de tudo aquilo que não se deve fazer ao volante de um automóvel.
Parece que existe um código de estrada com regras próprias para quem leva os filhos à escola, qual “black friday” num centro comercial perto de nós. Nestes momentos, ai de quem se lembrar de fazer uma chamada de atenção, receberá insultos que a imaginação não consegue alcançar.
O senso comum afirma que se pudessem levariam os filhos de carro à porta da sala de aula, felizmente as leis da física não o permitem. Contudo, já é frequente ver alguns pais entrarem com os seus carros nos estacionamentos privados das escolas.
Não servem estas palavras para condenar ninguém, pretendo apenas que se reflita sobre aquilo que podemos fazer para mudar comportamentos. De que interessa participar em marchas pelo ambiente, se depois somos automóvel-dependentes.
Confrontados com este pensamento, logo surgem múltiplas desculpas para não se deslocarem a pé, de bicicleta, trotinete, Toma, ou seja, deslocações amigas do ambiente e de uma cidade mais saudável. A cidade é acidentada, não há ciclovias suficientes, o clima é agreste, … e tudo aquilo em que se possa pensar. No entanto, a grande questão não é física, mas sim cultural.
No final do mês de fevereiro, participei num intercâmbio de alunos com uma escola belga. Os 12 alunos que levámos para Waregem ficaram alojados em casas de famílias belgas. Numa semana com temperaturas a rondar os zero graus, os nossos alunos deslocaram-se sempre a pé, de bicicleta ou de autocarro para a escola. Não houve desculpas, apenas uma enorme satisfação por perceberem que se podem deslocar de outras formas, basta querer.
Assim, o desafio está lançado. Os nossos jovens precisam de mais autonomia e responsabilidade. Os nossos alunos não precisam que os pais usem e abusem das deslocações de automóvel para a escola. Arrisquem, experimentem e vão ver que todos ficamos a ganhar. ■

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