Falamos muito de emoções e de sentimentos. Achamos que temos de nomear e dar nome a tudo o que sentimos. Mas, às vezes, nem nós sabemos o que estamos a sentir, ou porque a alegria e felicidade é enorme, ou porque a vida de repente nos abalroou de uma forma que parece que nem forças temos para sobreviver, quanto mais para continuar a viver e sorrir, ou estamos num limbo onde não sentimos nada e vamos fazendo normalmente a nossa vida.
Se é importante reconhecermos em nós e nos outros as emoções por forma a conhecermo-nos melhor, também o é aprender com aquilo que sentimos e saber reagir ao que nos acontece. Também acho que nos vendem em demasia o otimismo e as emoções positivas, se é que as podemos nomear assim, porque existem emoções boas e más, agradáveis e prazerosas e outras mais desagradáveis e até dolorosas. Mas todas são importantes. Porque todas as emoções têm a função de nos ajudar a adaptarmo-nos às situações.
Tenho-me deparado com algumas situações onde facilmente dizemos ou ouvimos: “Vai ficar tudo bem”; “Tudo se resolve a seu tempo”; “É preciso ter pensamento positivo”; “Há problemas piores”; “Tem calma”. Quando estamos perante uma situação com a qual não estamos a conseguir lidar, estas frases que poderão ser ditas com vontade de animar, podem transformar-se num otimismo tóxico.
Sabemos os benefícios do otimismo. A psicologia positiva tem demonstrado que o humor, o foco nas coisas positivas e boas da vida, a prática da gratidão e o semear da esperança promovem o bem-estar. É bom ouvir que há solução, que há escolhas, que há o sorriso no futuro. Mas, às vezes, no momento em que estamos a sentir algo desagradável, que estamos a sofrer, que choramos e caímos no poço, se calhar precisamos de muito mais. Precisamos de nos sentir vistos, ouvidos e amparados. Precisamos de colo, de demonstrações genuínas de interesse pela nossa situação e pelos nossos sentimentos. Precisamos de espaço para falar sobre o que estamos a sentir, precisamos de tempo para perceber o que nos está a acontecer. Ou precisamos só de falar, de dizer alto o que estamos a sentir, para que simplesmente faça sentido.
Quando as pessoas ao nosso redor nos fazem saltar etapas, desvalorizando ou desdramatizando situações desagradáveis ou difíceis, refugiando o discurso em frases bonitas, em clichês otimistas, corremos o risco de nós, ou quem está a passar por alguma dificuldade, se sentir mais desamparada do que nunca. Porque para além da situação difícil, se calhar é pior não podermos falar dos nossos sentimentos e de os podermos processar falando abertamente. Forçar ou obrigar o outro a manter-se otimista e de não o deixar desabafar sobre o que corre mal, acaba por devolver um otimismo tóxico.
Porque no final, o importante, mesmo que a intenção seja a melhor é perceber que estar triste, com medo ou com ansiedade é tão humano como estar feliz, otimista ou em paz. Precisamos uns dos outros e somos infinitamente mais felizes quando construímos relações afetivas de proximidade, baseadas no respeito, na empatia e na solidariedade. ■