Não há história sem arquivos

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Joana Beato Ribeiro
Arquivista

Este foi o título do texto que escrevi para o livro de homenagem a João B. Serra, Tu fazes parte, editado este ano, pela Tinta-da-China. Retomo o tema porque, acima de tudo, o meu percurso tem sido sobre arquivos. Como eles se produzem, como vêm parar às nossas mãos – arquivistas, historiadores, autodidatas, cientistas sociais, interessados por carolice… -, como os acondicionamos, descrevemos, digitalizamos e, fundamentalmente, compreendemos, analisamos, divulgamos. Assim sendo, não era possível que a este amável convite da Gazeta – especialmente no ano do seu centenário – não fossem sobre arquivos (e um pouco de história) as minhas crónicas.

Espero que não vos afaste com este imediato “ao que venho”, porque normalmente é assim que se reage a este assunto “chato”, que mete muitos papéis velhos e que, dizem, até queima as pestanas.

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E porquê falar de arquivos para as Caldas? Não podia ser mais urgente e oportuno! Não só para alertar agendas políticas, mas principalmente porque continuamos sem uma gestão sistemática da nossa memória histórica. E não foi por acaso que aqui referi o Professor João B. Serra, quero relembrar o seu esforço para a criação do arquivo histórico municipal.

Se, como disse Victor Hugo, na edificação patrimonial “cada indivíduo traz a sua pedra”, para a história deste monumento – entenda-se arquivo – e das Caldas poderá ainda contribuir uma parte do espólio deste historiador, que o PH recebeu no passado mês de julho – a par com a Ephemera, já agora.

Mas voltemos ao arquivo, cuja criação conhecemos através de documentação do PH e da obra Terra de Águas. Ainda que quem o procure hoje, provavelmente, não o encontre com facilidade, foi, de facto, nas décadas de 1980 e 1990, que a nossa memória histórica foi encontrada dispersa por vários edifícios, numa “confusão indescritível”, e começou a ser arquivada. A documentação mais antiga (excetuando o arquivo do Museu do Hospital e das Caldas) encontra-se hoje na Biblioteca Municipal e o seu tratamento inicial provém deste período, já longínquo, digo eu, nas minhas 3 décadas de vida. Mais do que o tratamento arquivístico conduzido, o facto de o Arquivo Histórico Municipal das Caldas da Rainha não ser (ainda) uma realidade, torna fundamental deixar nota da imprescindibilidade da constituição deste serviço público. Não podemos mudar a história. Mas podemos escrevê-la. (Serra, 2019) se, e quando, tivermos arquivos. Até porque, não se iludam, há muita História nas Caldas por fazer. Quem disser o contrário, está a mentir-vos!

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