O novo mapa autárquico

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notícias das caldas
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Estou a escrever esta crónica um dia depois das eleições autárquicas em Portugal e do referendo sobre a independência da Catalunha. O referendo na Catalunha, aqui tão perto de nós, tem o condão de nos fazer reflectir sobre o valor do exercício do direito e dever cívico do voto em Portugal, onde a abstenção tem vindo a crescer nos últimos anos.

Analisando o novo mapa autárquico, verifica-se que Portugal tem agora um futuro mais côr-de-rosa, pelo menos para os próximos 4 anos! O Partido Socialista ganhou 159 das 308 Câmaras Municipais (37,82% dos votos) e o PPD/PSD teve uma grande derrota nestas eleições, fruto não só de estratégias eleitorais erradas, mas também e principalmente da sua crise e deriva identitária. O PS teve a sua maior vitória autárquica de sempre e o PPD/PSD teve a sua maior derrota autárquica de sempre! O PPD/PSD, “o partido mais português de Portugal” como se dizia aqui há uns anos, surge agora como um partido acossado e desfasado da nova realidade urbana portuguesa, confinado a um eleitorado rural e envelhecido em franjas do nosso território. A participação nacional foi de 54,97%, mais elevada do que nas eleições de 2013, o que é um sinal positivo.
Mesmo no distrito de Leiria, um forte bastião do PPD/PSD no passado, as coisas estão a mudar. O PS tem agora 34,9% dos votos e o PPD/PSD tem 26,4%. No Bombarral, aqui tão perto de nós, o PS conquistou a maioria absoluta. Há ventos de mudança no ar… No entanto, nas Caldas da Rainha, onde vivo e trabalho, a realidade política que emerge destas eleições é a mesma de sempre. Pelo menos, aparentemente. O PPD/PSD voltou a conquistar a maioria absoluta, reforçando o número de vereadores na Câmara Municipal de 4 para 5 e o número de membros da Assembleia Municipal de 10 para 11. O PS mantém o mesmo número de 2 mandatos na Câmara Municipal e de 6 na Assembleia Municipal. Mas o PS ganhou a Junta da União de Freguesias de Tornada e Sair do Porto, uma vitória muito importante pelo seu significado simbólico e só não ganhou a Junta de Freguesia de A-dos-Francos por uma diferença mínima de 40 votos. O PS das Caldas da Rainha provou que é possível ganhar eleições em Juntas de Freguesia mais rurais e alterar o sistema partidário instalado no concelho! Tendo eu próprio sido candidato nestas eleições autárquicas, pude observar também que ainda subsistem muitos velhos hábitos instalados de influenciar o voto dos nossos cidadãos em alguns locais. Houve até alguns incidentes, rapidamente sanados, que me abstenho de comentar. Por outro lado, os cidadãos também ainda estão muito mal informados, questionando alguns o porquê da existência de 3 boletins de voto. A abstenção de 52,17% foi a mais alta de todo o distrito.
Para além destes, há também outros sinais ainda mais inquietantes nestas eleições autárquicas no concelho das Caldas da Rainha. Na freguesia da Foz do Arelho, o movimento independente MIFA criado pelo anterior presidente da Junta, alegadamente acusado de diversas irregularidades financeiras e desvio de fundos da própria Junta, obteve a maioria de votos. O facto de um autarca que é suspeito de abusos nas suas funções públicas ganhar as eleições, é uma nódoa para a democracia e a constatação evidente de que em Portugal o exemplo cívico deixou de contar para a política. É também deste modo que o vírus do populismo político se instala insidiosamente na nossa sociedade. A democracia não é apenas um direito abstracto adquirido, deve ser vivenciada e participada por todos com ética e sentido de responsabilidade!

Jaime Neto
jaimemr.neto@gmail.com

Gazeta das Caldas
| D.R.
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