O cachecol do artista

0
686
- publicidade -

Não são todos iguais

Estão marcadas as eleições legislativas. Cá pelo distrito a campanha dos profissionais da política já começou há muito. Desde há meses que as feiras e mercados são percorridos pela rapaziada do “arco”. De Pombal ao Bombarral ou de Peniche a Alvaiázere, não escapará agora lugar ou freguesia onde haja festa, procissão ou romaria. É a campanha eleitoral no seu auge. E no que toca a pragmatismo eleitoral, nada se compara à objectividade da direita. Mesmo que ensaiem umas guerrinhas do alecrim e manjerona ao de semana, ao fim de semana lá vão eles todos contentes como se fossem os melhores amigos desde pequeninos.
Estas contradições não os incomodam nada. Afinal têm de assumir todos os dias a defesa e a fidelidade a partidos e dirigentes que levaram quatro anos de governo a pôr a vida dos portugueses do avesso. Quatro anos de mentiras em nome do pagamento de uma dívida impagável. Quatro anos que aumentaram essa dívida. Quatro anos a cortar nos salários e nas pensões, nos serviços públicos, como a Escola Pública ou o Serviço Nacional de Saúde. Por cá até se transferiram recursos para escolas privadas (o que aumenta a dívida…) enquanto escolas públicas ficam aquém das suas capacidades, subaproveitadas… mas quando se trata de transferir proveitos para amigos, e pagar favores de outras campanhas, a austeridade não é para aqui chamada.
Também se deu a estocada final no Hospital Termal, pondo-o fora da esfera do Serviço Nacional de Saúde. Concretizando uma estratégia do ministério da saúde que desde o princípio definiu esta unidade como um “equipamento turístico” e cuja primeira intenção era privatização para transformação num hotel… Aparentemente não se foi tão longe. Mas quando vem agora o primeiro-ministro à região afirmar que não há nada definido quanto ao termal, percebemos que é mais um problema que não teve, nem vai ter, solução deste governo e que a cidade corre o risco de ficar a braços com mais um Pinheiro Chagas. Que o diabo seja surdo, cego e mudo, e não cheguemos a tal calamidade.
Confiemos então na divina providência, que a governantes e autarcas irresponsáveis ninguém espere pedir responsabilidades. A realidade da vida dos portugueses não encaixa nos dados e estatísticas que manipulam todos os dias, fazendo-nos crer num pais que só existe nas folhas de cálculo ministeriais, que ninguém conhece. Porém, será essa realidade que nos vão impingir em todas as feiras e mercados; festas, procissões e romarias; torneios de setas ou chinquilho, campeonatos de sueca ou de futebol de praia. Um chorrilho de mentiras e manipulações, no entanto adornadas por largos sorrisos, firmes apertos de mão e efusivos abraços, sem esquecer os repenicados beijinhos a idosos e criancinhas de colo. Assim funciona o arco da governação, a quem podemos chamar também o arco da aldrabice, da mentira, da corrupção, das negociatas, do desemprego, da miséria. De tudo isso, menos dos interesses colectivos da sociedade portuguesa, em geral, ou dos portuguese em particular, sobretudo dos que mais precisam de um estado capaz e competente, que foi paulatinamente desmantelado.
Esta campanha mistificada, apoiada em falsidades e manipulações da realidade, que está no terreno há meses, promove particularmente a descrença, a desmobilização e a abstenção eleitoral. Perante este degradante e triste espectáculo, não admira que os cidadãos encolham os ombros e digam que são todos iguais.
Mas não são todos iguais. Cada vez mais é importante perceber quem fala verdade e quem mente. Distinguir quem está preocupado com as suas carreiras políticas e quem faz da política um exercício de cidadania. Perceber quem está ao serviço dos grandes interesse e quem está a defender o interesse público. Quem elege deputados para vender o país a retalho e quem elege deputados para defender o Estado Social, a Escola Pública e o Serviço Nacional de Saúde. Quem recuou aos tempos do fascismo social e económico, que é hoje o arco da dividatura, e quem defende verdadeiramente os valores socialistas da emancipação e do progresso; da redistribuição da riqueza e da justiça social .

Lino Romão
linoromao2.0@gmail.com

- publicidade -