Era uma vez uma menina que vivia na aldeia com os Avós. A Sara. Os pais trabalhavam num outro país e só vinham no Natal, na Páscoa e alguns dias no verão. Sara tinha contado na escola a esperança de que os pais regressassem, pois entendia que os Avós sofriam de saudades.
A Professora Ana tinha-lhe perguntado:
Então parece-te que os teus Avós têm saudades dos teus pais?
Sara explicou melhor o que lhe ia no pensamento:
O meu Avô José e a minha Avó Quina são pais da minha Mãe. Eles têm medo que ela trabalhe demais,tenha uma vida mais pesada do que teria aqui,e nós não conhecemos o país onde eles vivem. Por isso os meus Avós julgam os meus pais estão lá longe, rodeados de neve e tempo frio, e não conseguem imaginar que eles estão bem e contentes sabendo que aqui, eu tenho tudo o que preciso.
A Professora Ana ficou na dúvida sobre se devia continuar a fazer mais perguntas, mas pareceu-lhe que a Sara até se sentia bem a falar do assunto. E por isso perguntou ainda:
Então e tu também tens saudades dos teus Pais, também te preocupas?
Sara olhou para a janela de onde se avistavam os campos cultivados. A aldeia com as quintas, casas antigas, campos agrícolas, árvores de fruta, a mata, o pinhal, o ribeiro com bonitas margens. A quente luz do sol,a chuvas que traziam as gotas que alimentavam milhares de seres vivos, como ela tinha aprendido nas aulas de ciências naturais.
Professora, aqui comemos a frutas e legumes que cultivamos, da capoeira temos os ovos, temos tantos amigos! Na aldeia há muito silêncio e eu posso deitar-me à noite e ficar a sonhar com os meus Pais, posso falar com a minha Mãe, eu deitada na minha cama quentinha e ela lá no País de neve onde está. Sou eu que prendo os meus Pais aqui, eles nunca iriam esquecer-me porque foi por minha causa que foram viver longe. E os meus Avós cuidam de tudo o que preciso. A mim parece que os meus Pais estão perto e os meus avós envelhecem mais devagarinho porque têm de cuidar de mim.
A Professora Ana sorriu.
Então e aqui, fora da escola , o que gostas mais de fazer?
Sara fez uma pausa. E depois perguntou:
Se eu contar, a Professora não vai rir-se de mim?
Penso que não, Sara, não vejo o que pudesses tu fazer que me levasse a rir de ti!
Então eu conto. A Avó Quina tem um galinheiro. E quando a Mãe esteve cá, no verão, nasceram pintainhos. Uma dúzia deles. Bonitos, professora! Amarelos e até alguns daqueles carequinhas! A galinha esteve deitada em cima dos ovos, a protegê-los, um mês inteiro, coitadinha! A Mãe disse-me que eles pelo Natal haviam de estar grandes.
Eu escolhi um dos pintainhos e dei-lhe um nome: Calçuda. Vou vê-la todos os dias, quando vou com a minha Avó ao galinheiro buscar os ovos do dia.
A pinta Calçuda conhece-me, tem crescido muito e até me parece que espera que eu apareça e põe assim um dos olhos de lado para me ver. Ela sabe que gosto dela. Com a Avó aprendi a fazer-lhe comidinha. Restos da nossa mesa, pão, arroz, couves, cenouras, muita coisa, tudo bem cortado A Calçuda come a comida que lhe preparo. Sinto que a minha franguinha depende de mim. E vou contando à minha Mãe os progressos que ela faz.
A Avó ensinou-me que há um lindo animal, a doninha, que gosta muito de ovos de galinha e aproveita da ausência das pessoas para entrar nos galinheiros e comer os ovos do dia!Mas o nosso cão, o Tejo, protege o galinheiro e as doninhas não se aproximam.
Vejo que sabes muita coisa sobre a vida dos animais, Sara! – Elogiou a Professora Ana, admirada.
Está a Professora a entender que eu tenho uma vida muito animada! Lá em casa, a Avó Quina anda a ensinar-me a cozinhar. Sabe? Para da próxima vez que os meus Pais vierem, ser eu a fazer o prato principal. Já combinamos, a Avó faz a sopa e eu vou fazer um prato simples, ainda não sei qual, andamos a experimentar receitas da Avó para escolher a melhor.
Imagino que a tua Avó deve saber quais as comidas preferidas do teu Pai e da tua Mãe!
Sim, claro, sabe tudo e vai-me contando a mim. Veja lá, a Avó até me contou as traquinices que a minha Mãe fazia quando era da minha idade. Às vezes até fico com a sensação que a diferença entre nós duas não é assim tão grande.
A minha Mãe quando era pequena roubou um ovo que uma galinha estava a chocar. Meteu a mão debaixo da galinha, quando apanhou a Avó distraída, e tirou-o. O ovo foi para o bolso do avental e depois ela escondeu-o debaixo da almofada da cama. À noite, quando a minha Avó foi levantar a colcha para a Mãe se deitar, encontrou o ovo, enrolado numa meia de lã. E ficou zangada. Pediu à minha Mãe para explicar porque tinha feito aquilo!
E que respondeu a tua Mãe Lina?
Oh! Como é que a Professora Ana sabe que lá em casa os avós chamam Lina à minha Mãe?
Mas, então não sabias que a tua mãe e eu andamos juntas na escola?
Ah! Sabia sim, o Avô contou-me, parece-me que tinha esquecido isso! Mas veja lá, Professora, a Avó ficou satisfeita com a resposta que a Mãe deu! Ela disse que tinha levado o ovo para um lugar quentinho porque pensava que o pintainho que estava a viver lá dentro podia também ser chocado ali, e assim quando conseguisse partir a casca para sair ficava logo a conhecer a dona.
-A dona?
-Sim, o Avô tinha o Mondego, o cão que nesse tempo guardava o galinheiro e o jardim. O Mondego eu não conheci. A Avó tinha o Farripas, o gatinho. E a minha Mãe Lina também queria ter um animalzinho de companhia. E escolheu o pintainho. Até já tinha nome para ele, ia chamar-lhe Calçudo.
-E como acabou essa história?
-A Avó levou o ovo de novo para o cestinho da galinha, e como tinha estado sempre quente, o pintinho estava vivo. Marcaram a casca com um sinal vermelho para o distinguir dos outros. Quando nasceu ,em vez de Calçudo a Mãe chamou-lhe Vermelhinho.
-Ah! Por isso chamas Calçuda à tua franguinha?
-Pois é Professora Ana, a minha Mãe e eu, não somos mesmo iguais. Ela esperava um rapaz, eu tive uma menina!
Beatriz Lamas Oliveira
































