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A força do Poder, do saber e do fazer nem sempre é coincidente. A capacidade de poder saber fazer ainda menos! Cabe isto a propósito da constatação incontornável de que a gestão PSD instalada na Câmara Municipal de Caldas da Rainha, apesar de o somatório de votos que a elegeu ser bem inferior ao do conjunto de todas as outras forças políticas, se arrogar a pretensão de utilizar a seu bel-prazer a maioria absoluta de que dispõe, como se fosse dona e senhora dos destinos colectivos dos Caldenses. Esta atitude, distanciada daquele mínimo de postura dialogante e humildade necessária, revela-se até ofensiva da ética política dado que, em alguns casos, os efeitos e as consequências das decisões unilaterais, tomadas em circuito interno, transcendem (e muito) os limites do mandato. Não se verifica um genuíno desejo de escutar e ter em conta, em função duma avaliação séria, as propostas da Oposição, à partida quase sempre subestimadas e menorizadas, ou vilipendiadas e apoucadas como produto de tenebrosas conspirações anti-democráticas com o propósito inconfessável de derrubar quem pode, quer e manda como se ungido por direito divino. Também não se observa um esforço sério e sincero de mobilização da opinião cidadã, meio utilíssimo para aferir, sustentar e aprofundar o sentido e a justeza das matérias em deliberação. Quando algo é posto à discussão pública, é-o sob a forma de envergonhado jogo de escondidas, e acontece apenas porque ou corresponde a inultrapassáveis imperativos jurídico-legais ou então como alibi para ser invocado posteriormente. O executivo municipal mostra-se cego e surdo mas não mudo: os seus meios de propaganda obrigam-se a publicitar o que, à força toda, pretendem ser indiscutivelmente bom, ainda que a autoapregoada excelência se venha a revelar péssima. Nas conjecturas do círculo dominante, ansioso por deferências e reverências, quaisquer críticas são mal acolhidas por só poderem traduzir o veneno da intriga e a irremediável má vontade que as urde e nunca o melhor interesse da Comunidade. O século XVIII recorreu às práticas do «despotismo iluminado». Haverá que reconhecer estarmos longe do perigo de tal pulsão, dado que, em pleno século XXI, tais concepções são absolutamente inaceitáveis e intoleráveis. Acresce que, a ocorrerem aqui, de «luzes» sobretudo teriam pouco ou nada… Na próxima crónica, dar-se-á conta, em jeito de balanço, de um conjunto de exemplos daquilo que, ao longo destas desconsoladas linhas, se foi relatando. Em todo o caso, e à laia de despedida, as palavras do poeta Joaquim Pessoa ilustram, de forma perfeita, a tristura que, por tudo isto, nos assalta, em paralelo com a confiança que nos vai animando: «Obrigado, excelências. Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade. Obrigado por não nos perguntarem nada. Por não nos darem explicações. Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria. Obrigado pelo cinzentismo. E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer. Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber. Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera. Obrigado por serem o que são. Obrigado por serem como são. Para que não sejamos também assim. E para que possamos reconhecer facilmente quem temos de rejeitar».
José Carlos Faria
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