Onde pára a Festa da Cerâmica?

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Não tenho por hábito manifestar-me publicamente sobre o que se faz ou deixa de se fazer nas Caldas da Rainha, mas como caldense e como ceramista, e porque de repente parece que anda tudo distraído, achei que tinha o dever de dar a minha opinião sobre o que se tem feito… ou o que não se tem feito na “Festa da Cerâmica”.
Quando foi anunciada esta Festa, caí na ilusão de que, depois de sucessivos anos a adiar este evento, se iria, finalmente, dar este passo e criar dinâmica em volta deste tema tão importante, que tal como as termas fazem parte das raízes e da identidade da nossa cidade.

Na apresentação deste evento anunciou-se um sem fim de dinâmicas, as mais diversas iniciativas e parcerias. O que tem acontecido até agora são algumas iniciativas espaçadas no tempo, semelhantes a outras feitas anteriormente e comunicadas localmente com pouco impacto. Não questiono aqui o seu interesse, mas penso que têm pouca expressão para algo que é suposto deixar uma marca forte na cidade e para o qual foram anunciados gastos tão avultados.
Li na altura que neste evento se iria gastar um milhão de euros no período entre 2016 e 2020 e que iria ter um dos pontos fortes logo em 2016, onde seriam gastos cerca de 250 mil euros. Onde foi gasto até agora esse dinheiro? Na Feira dos Frutos? Na Festa do Cavalo Lusitano?
Disse-se na altura, que este evento iria ter uma projecção Nacional, até mesmo Internacional. Pergunto mesmo se chegou a ter projecção local. A partir do momento em que apareceu a Feira da Fruta, pouco mais se ouviu falar na Festa da Cerâmica. O próprio nome “Festa da Cerâmica” subentende que exista um ambiente festivo em volta da cerâmica. Se o registo for este até 2020, pergunto-me no final o que é que a Festa da Cerâmica acrescentou à cidade de Caldas da Rainha.
A finalidade era em 2020 a cidade candidatar-se como Cidade Criativa da UNESCO. Acho que um dos pontos principais que deveria existir num evento destes, seria uma Bienal/Concurso Internacional de Cerâmica. Uma cidade que se diz ser um Centro Cerâmico deve ter um Concurso. Isto fomentaria a criatividade, a participação dos Ceramistas locais, nacionais e estrangeiros, divulgaria a iniciativa e reforçaria as Caldas da Rainha como cidade de cerâmica. A cidade não pode andar sempre agarrada à história, isso só por si, não faz dela um centro cerâmico, ainda mais, agora que temos perdido nos últimos tempos, alguns dos nossos melhores artistas.
Caldas da Rainha precisa de um grande evento bem divulgado, que reforce a sua fama de cidade da cerâmica. Era importante, também, que hajam iniciativas mais populares onde se traga a cerâmica para a rua ao encontro do público e não levar a cerâmica só para os museus onde depois será vista apenas por algumas pessoas na inauguração. Este evento teria de ser apresentado de uma forma cuidada e funcionaria também como uma componente pedagógica, educando o público de que a cerâmica não é só loiça, ela pode ser muita coisa, desde artesanato, loiça, arte e tudo isto, teria de ser acompanhado de uma comunicação forte.
De nada serve um evento se este se restringir apenas às fronteiras da cidade. Caldas da Rainha é, sim, uma cidade de criativos e não uma cidade criativa, que são coisas diferentes. Temos criativos de imenso valor nas mais diversas áreas, reconhecidos, a darem cartas no resto do país e fora dele e que o fazem por conta própria sem qualquer tipo de apoio. A cidade não fomenta nem investe na estimulação dessa criatividade. Aqueles que trabalham todos os dias na cerâmica e que levam o nome da cidade para as mais diversas iniciativas em que participam ou através das peças que vendem, acabam por nada ter a ver com esta iniciativa.
Tenho pena que isto esteja a acontecer e agora que Caldas da Rainha passou recentemente a fazer parte da Associação Europeia das Cidades da Cerâmica deveria fazer muito mais. Tinha aqui uma excelente oportunidade de não ficar só pela apresentação abastada de um evento que não está a ter qualquer impacto. Alcobaça, que faz parte desta associação, e que não prometeu nenhuma Festa da Cerâmica, está já a programar um conjunto de iniciativas, a partir do próximo mês de Junho. Era desejável que o melhor desta “Festa” estivesse ainda por vir, correndo-se o risco, se assim não for, de a cidade perder aqui uma excelente oportunidade de reforçar a sua identidade como cidade da cerâmica.

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Mário Reis

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