Joana Louro
médica
A ultima vez que escrevi para um jornal foi há 18 anos. 18 anos? Como assim? Não consigo evitar o lugar comum de que o tempo voa. E é mesmo assustador o ritmo do tempo… pelo menos do meu.
Confesso que naquele tempo era mais fácil escrever. Eu era uma miúda. Tinha bem mais certezas. As opiniões eram mais convictas. Todos os temas me pareciam novos, interessantes e passiveis de reflexão. 18 anos depois tenho cada vez menos certezas, mais reservas nas opiniões (que deixaram de ser estanques) e confesso que uma grande parte dos temas ditos da atualidade não me motivam qualquer tipo de interesse e muitos me parecem mais “velhos” que atuais.
E é sobre um destes temas… tão velho que todos os anos, por esta altura, se repete, que venho falar: O Ranking das escolas. Provavelmente, não há nada que não tenha já sido dito sobre o assunto, mas esta excitação anual com o tema deixa-me sempre desconfortável, para não dizer irritada. Estes rankings escolares são só absurdos, profundamente injustos, perversos e roçam a imbecilidade. Até aqui tudo certo. O mundo está cheio disto… mas que lhe seja dado o destaque, ano após ano, nos diferentes meios de comunicação, nacionais e regionais, não deixa de me surpreender.
Se olharmos para esta seriação de uma forma simplista ou redutora podemos mesmo acreditar que os dados apresentados são válidos. E este é o grande risco. Há uns dias ouvi um professor dizer que estes rankings são apenas uma “forma de publicidade gratuita para as escolas privadas”. Esse deve ser mesmo o único objetivo que cumprem com clareza. Como em (quase) tudo na vida… a gama cromática entre o branco e o preto é gigante. Vamos então refletir sobre os cinzentos.
Estes rankings são apenas uma seriação de escolas com base no desempenho dos alunos nos exames nacionais. Ponto. Compara tomates com laranjas e quando se compara o incomparável o resultado pode ser desastroso. Avaliar uma escola – com toda a sua complexidade – com base em resultados, desconhecendo o contexto e a realidade dessa instituição é o contrario do que pretendemos numa educação inclusiva, de qualidade e com garantia de igualdade de oportunidades. Estes dados traduzem mais o enquadramento social das escolas e o nível socio cultural e económicos dos alunos que as frequentam que o verdadeiro valor do projeto educativo escolar e dos seus professores.
Por fim quando confundimos resultados com sucesso, esquecemo-nos do caminho que se percorre. Esquecemo-nos do esforço, da superação, da conquista. Esquecemo-nos do mais importante – as pessoas: alunos e professores que, nas escolas publicas, fazem muitas vezes omeletes sem ovos. E as escolas são feitas de pessoas e o verdadeiro sucesso de uma escola assenta no processo, não no fim, na preparação de cidadãos responsáveis, informados, na construção de saberes adequados para um mundo (não só profissional) cada vez mais em constante mutação. ■