Vítor Ilharco
Personal Trainer
De 4 em 4 anos, o mundo reúne-se para celebrar as performances dos melhores atletas globais. Durante pouco mais de duas semanas, os Jogos Olímpicos dominam o espaço mediático, encantando, não só, os apaixonados por desporto, mas também os espectadores menos atentos.
Durante os “Jogos”, acompanhamos com entusiasmo os atletas nacionais, na esperança de vê-los a alcançar o pódio e trazer, para o nosso país, as tão desejadas medalhas. No entanto, apesar do orgulho que as quatro medalhas conquistadas nesta edição nos proporcionaram, estas deixam um sabor agridoce, refletido num modesto 50.º lugar na classificação dos países medalhados.
No rescaldo, surgem inevitavelmente as perguntas sobre a escassez de maior sucesso dos nossos atletas. Um argumento recorrente, mas simplista, é o de que Portugal é um país pequeno, com apenas 10 milhões de habitantes. Contudo, exemplos como o da Nova Zelândia, uma potência desportiva, que, com os seus 5 milhões de habitantes, figura no 11.º lugar na lista de medalhas, ou da Geórgia, com menos de 4 milhões de habitantes e na 24.ª posição, mostram que a dimensão populacional não é determinante.
Outra justificação frequentemente apresentada, e com a qual é difícil discordar, é a falta de uma cultura desportiva enraizada em Portugal. Mas, afinal, o que entendemos por “cultura desportiva”?
Segundo os dados mais recentes, divulgados pelo Eurobarómetro de 2022, 73% dos portugueses nunca pratica atividade física.
Para alterar estes números, temos de começar na base. A disciplina escolar de Educação Física tem um programa riquíssimo. Este pretende promover o gosto pela atividade física, experienciando atividades físicas desportivas, expressivas e de exploração da natureza.
Ao aprender este vasto leque de atividades, os jovens terão maior probabilidade de continuar a praticar desporto ao longo da vida. Um aluno que desenvolva interesse por desportos de raquetes, como o badminton, terá maior facilidade, em adulto, para se dedicar com sucesso ao padel. Uma criança que aprenda a nadar, terá a possibilidade de praticar desportos de natureza.
Contudo, após terminar a vida académica, têm de ser dadas condições para que esse jovem se torne num adulto ativo. As modalidades consideradas amadoras necessitam de mais apoio e divulgação. As autarquias devem envolver mais as comunidades. Devem ser criados mais espaços convidativos à prática de atividade física. O exercício pode e deve ser um prazer.
Mais importante do que o número de adultos que atinge o alto rendimento e conquista medalhas olímpicas, é a promoção de uma cultura desportiva sólida e abrangente. No entanto, a falta de medalhas reflete a pobreza desportiva e a inatividade física que dominam um país cuja atenção está focada quase exclusivamente num só desporto.
Os Jogos Olímpicos já foram. Venha o desporto. Venha o futebol. ■