PAÇOS DO CONCELHO | Começar de novo

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Gazeta das Caldas
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Agora que já passaram as eleições autárquicas, é tempo de fazer um balanço.
Já estamos todos habituados a que cada candidato, logo na noite das eleições, se apresse a valorizar o que correu bem e a esconder o que correu menos bem. No fim, como se costuma dizer, ganharam todos.
Julgo que a evolução da nossa democracia já nos exige mais do que isso. Mais importante do que saber quem ganhou ou perdeu as eleições, importa é aproveitar o confronto de ideias que existiu durante a campanha para, aí sim, traçar uma linha de ação da autarquia que seja melhor do que qualquer programa eleitoral partidário individualmente considerado.
É natural que, feita a contagem dos votos, quem teve mais votos ou mais mandatos sinta vontade de festejar e, por outro lado, quem não alcançou o resultado desejado, esteja mais desanimado. Mas esses sentimentos devem rapidamente dar lugar ao resultado que verdadeiramente interessa: a vitória numas eleições deveria ser sempre do eleitorado e, neste caso, do município e das suas freguesias. As eleições não podem ser um fim em si mesmo. Devem ser sempre uma forma de dar às pessoas a melhor solução governativa possível e, principalmente, de pacificar a sociedade garantindo que aqueles que exercem o poder em nome do povo têm uma legitimidade inatacável, precisamente por advir do voto popular.

Ainda assim, porque as eleições não acontecem num mundo virtual, mas antes na nossa realidade, importa dar os parabéns, em primeiro lugar, a todos os caldenses pela forma civilizada e adulta como decorreu o ato eleitoral. A única preocupação continua a ser a elevadíssima abstenção que nos deveria obrigar a uma reflexão mais aprofundada. De qualquer modo, a abstenção é provocada pelos que não votam e, por isso, não podem esses retirar o mérito de todos quantos exerceram o seu direito de voto.
Em segundo lugar quero homenagear todos aqueles que se disponibilizaram para fazer parte das listas de candidatos. Permitam-me destacar neste ponto os meus colegas com os quais partilho este espaço nas páginas da Gazeta das Caldas e que, em semanas diferentes, escrevem as suas crónicas. Numa altura em que é bem mais fácil dizer mal da política e dos políticos; num tempo em que se ouve dizer que os políticos são todos iguais, generalizando injustamente a partir de casos de políticos corruptos; numa sociedade que, por fim, parece estar mais individualizada e que transforma os problemas coletivos em problemas “dos outros”, é muito importante que continuem a existir cidadãos que não se demitem das suas responsabilidades e se disponibilizam para serem escolhidos pelos seus vizinhos para gerirem a coisa pública.
Em terceiro e último lugar, quero apenas desejar que os eleitos saibam aproveitar a oportunidade e, acima de tudo, a honra que os seus concidadãos lhes concederam. Que saibam trabalhar em conjunto para melhorar a qualidade de vida de todos os que residem e trabalham no município ou nas suas freguesias. Que saibam aproveitar o facto de terem ideias diferentes e que as discutam com o objetivo de chegarem a uma solução final muito melhor do que qualquer das ideias iniciais.
As eleições, que fazem com que os órgãos de poder se constituam com novas pessoas, são sempre um novo começo. Ainda que as pessoas sejam as mesmas, o ato eleitoral é a ocasião indicada para estas se renovarem e corrigirem o que houver de corrigir. Nesse sentido, não deixa de ser também um novo começo. As eleições são uma grande oportunidade, periodicamente renovada, que a sociedade tem para se ultrapassarem questiúnculas passadas e colocarmos os olhos no futuro e no bem-estar das populações. Sejamos todos dignos desse desígnio.

Jorge Varela

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