Há evidentemente uma substancial diferença entre a iniciativa de agir em alguma coisa e o imobilismo de nada fazer. Mas nem sempre isto é assim tão óbvio. Por vezes o frenesim dos gestos não equivale a sair do sítio onde se ficou estancado. E ocorre até que após o exercício do acto se possa ficar em pior situação.
Prendem-se estas considerações iniciais com um conjunto largo de assuntos e sobretudo com a maneira como a Edilidade tem lidado (ou não) com eles.
Nos Pavilhões do Parque, à partida, toda a gente concorda que é preciso «fazer alguma coisa». Importa, no entanto saber o quê, como e em que sentido. Ora aquilo que tem vindo a lume suscita considerável apreensão. A primeira mistificação surge logo com a pretensão de serem os privados a intervir, dado o Estado não possuir meios para tal. A verdade é que o governo abdicou, a favor de privados, do direito de preferência que lhe assistia no recurso a fundos comunitários, ao mesmo tempo que garantia ser avalista de uma linha de crédito de 150 milhões de € para essas entidades privadas. Mesmo no consulado de Cavaco Silva como 1º-Ministro, o financiamento da recuperação patrimonial foi público, através da Enatur. Quanto à instalação duma unidade hoteleira nos Pavilhões, para lá do risco de desvirtuamento da tipologia arquitectónica do edifício e da contaminação dos aquíferos termais, dado o elevado nível freático ali existente (que as obras na então Casa da Cultura comprovaram), sobra a apropriação abusiva do espaço do Céu de Vidro e a articulação controversa entre os dois edifícios, apenas possível com uma construção de raiz, o que vai ao arrepio das recomendações produzidas num estudo prévio encomendado pela Autarquia.
Do prometido e desejável até ao realizado tangível alastra uma mancha de atávica entropia paralisante:
A 2ª fase de desassoreamento da Lagoa (cuja execução já deveria ter acontecido) está submersa em expedientes burocráticos.
A revisão do PDM – Plano Director Municipal, o Plano Estratégico, o Plano de Pormenor do Centro Histórico e o Plano de Mobilidade jazem soterrados desde há anos sem conclusão à vista.
A obrigatória separação das águas pluviais das de esgotos, que podia e deveria ter sido realizada nos trabalhos da Regeneração Urbana, não foi levada a cabo.
A ETAR permanece com uma capacidade largamente insuficiente para o tratamento de resíduos e esgotos.
À remoção, que a Lei impõe, das coberturas de amianto degradadas em instalações industriais em ruínas é dedicada uma indiferença alarmante, tendo em conta o sério risco de contaminação cancerígena por inalação de partículas.
Do Hospital Termal, sobre o qual a Câmara nunca deveria ter aceitado, submissa, os ditames chantagistas da tutela, o futuro permanece incerto e indefinido. No Centro Hospitalar, a conjuntura vai-se agravando como se verifica com a caótica situação das Urgências cujo alargamento era suposto já ter sido concluído e ainda nem sequer foi iniciado.
Na Linha do Oeste, não basta uma reunião com a Administração duma instituição que tem assumido posturas a roçar o boicote e que agora substitui combóios por autocarros, alegando não dispor de material circulante. Ocupando as Caldas da Rainha uma posição fulcral era imperioso assumir uma postura catalisadora, mobilizando as autarquias, cidadãos e empresas para defesa e melhoria de um serviço de importância estratégica.
A lista podia continuar com o Penedo Furado que ameaça derrocada; os prédios inacabados ou abandonados, a que a Câmara conforme os casos, poderia tentar obviar a situação, acionando a faculdade legal de aumento do IMI, ou, em última análise de tomar posse administrativa, etc.
Enfim, tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é facto, excepto para os convenientes louvaminheiros e aduladores de circunstância.