De Palavra em Riste | Divagações diversas e divergentes

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Assim vamos – Perante o desenrolar do quotidiano, constatando primeiro, tomando depois devida nota das contradições para, por fim, analisando, poder tirar conclusões e propor acções concretas tendo em vista a transformação da realidade.

Em meados de Agosto, o executivo municipal convidou os representantes de todos os partidos a subscreverem uma petição lançada pela Associação de Termalismo de Portugal (cujos órgãos sociais a Autarquia de Caldas da Rainha integra), no sentido de ver debatida e aprovada na Assembleia da República uma medida que reponha a comparticipação financeira do Estado nos tratamentos termais. Pretende-se que a petição venha a ser assinada por um grande número de cidadãos, reforçando de forma expressiva o sentido desta pretensão. Mas o consenso agora firmado não deve conduzir ao esquecimento do ocorrido anteriormente, ou seja, a capitulação submissa da Câmara Municipal perante a intolerável chantagem que o governo PSD/CDS exerceu, visando, com relativo mas inegável sucesso do seu indisfarçável desejo, o corte dos apoios do SNS à actividade regular do Hospital Termal, o seu encerramento e uma futura concessão a privados. A CDU não deixou de alertar, quantas vezes sozinha, para o perigo que estas posições acarretavam: a evidente e preconceituosa subestimação das virtudes terapêuticas únicas das águas termais da nossa cidade, interrompendo assim, pela primeira vez em cinco séculos, a actividade de um Hospital que, orgulhosamente, se podia gabar de ser o mais antigo do Mundo em funcionamento, e que, para além disso constitui um factor identitário insubstituível e um catalisador económico. Houve porém, quem, em 2011, não quisesse perceber esta ameaça e houve mesmo quem a defendesse com arreganho. O tempo, na sua marcha inexorável, veio demonstrar, embora com atraso de anos, a necessidade incontornável de uma forte e estruturante componente pública, permitindo através de uma verba residual do Orçamento (meio milhão de Euros) o reforço e alargamento dos tratamentos a um número mais elevado de utentes.
E como as coisas não estão desligadas de contexto, há também que deixar bem claro que idênticos riscos se correm com o projecto de instalação de uma unidade hoteleira nos Pavilhões, a qual, por mais piscinas que exiba, não é, de todo, um hotel termal. O anteprojecto apresentado, é, como já aqui foi referido, uma agressão urbanística que não recupera património, antes o ofende pela volumetria excessiva fazendo desaparecer de vez o Céu de Vidro, eliminando entradas para o Parque e sonegando espaço de fruição pública para fins exclusivamente privados, criando uma barreira arquitectónica que interrompe o eixo visual e de acesso entre a alameda do Parque e a fachada do Hospital. Acresce o enorme perigo de contaminação dos aquíferos que representa a construção de uma cave subterrânea com 3 pisos para estacionamento e área técnica. Se não for travado, o que está a ser delineado para os Pavilhões pode, paradoxalmente, significar um rude e profundo golpe no Termalismo.
No Plano Estratégico que vigorará até 2030, reconhece-se «a gradual perda de capacidade de resposta que Caldas tem vindo a sofrer» e o desafio do «renascimento da unidade termal com nova pujança». Então, que se saiba estar à altura das responsabilidades e abrir corretamente esse caminho.
E assim vamos, com a exigência fundamental e decisiva de não prescindir da arma da crítica que nos leva a divergir, racional e salutarmente, das correntes dominantes instaladas, e procurar, com determinação, outros caminhos alternativos, mesmo que por vezes diametralmente opostos, sempre com o mesmo firme propósito: o desenvolvimento harmónico e integrado do concelho e a melhoria da qualidade de vida dos munícipes.
E assim vamos!

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