José Ribeiro
Professor de Políticas Públicas
A Praça da Fruta é um dos mais importantes patrimónios do nosso concelho: centro agregador da população e do território; dinamizadora multitudinária; atração turística ímpar no país e fonte inesgotável de potencialidades económicas. Um local de intercâmbio e de encontro entre a população rural e urbana, materializando um dos raros e, por isso, preciosos lugares do país em que de facto a agricultura e a ruralidade são consideradas.Mas está a definhar. O envelhecimento dos produtores, a especulação relativamente aos espaços de venda (o último “leilão” foi no início do ano) e a falta de condições, estão a condenar a Praça. Assistimos ao progressivo desaparecimento dos vendedores/produtores locais,vão desistindo dos seus espaços, cedendo-os, ou por cansaço ou por falta de meios financeiros, a revendedores que se abastecem, na sua maioria, nos mercados abastecedores de Caldas ou de Lisboa (ou a assalariados de revendedores),incapazes de competir nos “leilões” e saturadas do fleumático clima oestino. Não surpreende o descontentamento generalizado: montagem e desmontagem onerosa dos “ferros” e toldos, pesados e ruidosos, que nada protegem contra intempéries (os atuais toldos têm apenas alguns meses, mas já deixam passar água quando chove e oferecem amiúde banhos de imersão); falta de condições de higiene e de outras estruturas de apoio (os vendedores partilham um WC que fica no Largo da Copa, o WC feminino do posto de turismo está avariado), existe um único chafariz para lavar materiais, beber, etc., e a mobilidade urbana em torno da Praça é terceiro- mundista. Quem frequenta assiduamente a Praça tem perfeita noção de que é cada vez mais difícil comprar produtos locais, com a honrosa exceção das duas bancas com certificado de produção biológica (só aos sábados), mas que pertencem a pessoas que possuem conhecimentos necessários para adquirir a certificação, algo que não está ao alcance da maioria dos vendedores, que não conseguem ou não têm condições para tal. A Praça da Fruta é uma marca identitária, é um foco de vida, comércio e atividade de todo o centro da cidade, move não só as Caldas como os concelhos vizinhos. É uma atração turística única e pode ser um polo de desenvolvimento da agricultura. É um último reduto de uma visão integradora e de futuro para o concelho. Vamos aceitar que a Praça se transforme numa mera visita picaresca para turistas e numa ténue lembrança ■