Filipa Silva
Eng. Agrónoma – Consultora e Formadora
No passado dia 5 de dezembro, comemorou-se o Dia Mundial do Solo, uma data instituída pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), para sensibilizar a sociedade sobre a importância vital do solo para a saúde do planeta e o bem-estar humano.
O solo é fundamental para a produção de alimentos, a regulação do ciclo da água e dos nutrientes, e ainda para a mitigação das alterações climáticas, pois atua como um importante sequestrador de carbono.
Apesar de ser um recurso indispensável, o solo é não renovável na escala de tempo humana. A formação de apenas 1 cm de solo pode levar entre 400 a 2000 anos, dependendo de fatores como o tipo de rocha e as condições climáticas. Isso torna ainda mais crucial a sua conservação.
Uma colher de chá de solo saudável pode conter mais microrganismos do que o número total de pessoas no planeta. Estes micróbios interagem entre si, com as plantas e com o ambiente para criar um ecossistema dinâmico e vivo. Trata-se de um ecossistema invisível, mas do qual dependemos profundamente.
Relativamente a Portugal, existem dados preocupantes sobre a degradação dos solos no país: i) aproximadamente 70% dos solos estão degradados e a sua saúde está em declínio; ii) estima-se que se perdem 20 toneladas de solo por hectare por ano; iii) cerca de 60% dos solos portugueses têm pouca matéria orgânica; iv) 52% do território nacional está em risco de desertificação; v) no sul de Portugal, até 33% das terras estão expostas a um elevado risco de erosão do solo. Estes números são alarmantes e sublinham a urgência de agir para preservar a qualidade e a quantidade de solo no território nacional.
As áreas metropolitanas e as regiões costeiras de Portugal têm registado um aumento populacional, turístico e um crescimento significativo da construção nos últimos anos, e as Caldas da Rainha não é exceção. O aumento de área urbanizada e consequente impermeabilização do solo, traz sérias consequências: compromete a infiltração e retenção de água no solo; reduz a qualidade da água, devido ao escoamento urbano que mistura águas pluviais e residuais; agrava o risco de inundações, podendo chegar a fenómenos como os ocorridos recentemente em Valência e noutras regiões da Europa.
Enfrentar esses desafios exige uma transformação urgente das paisagens urbanas e periurbanas. Cidades como Barcelona já estão a liderar o caminho, substituindo cimento por vegetação e incentivando o uso de transportes sustentáveis. Nas Caldas da Rainha é essencial que o crescimento da cidade seja acompanhado de estratégias que promovam [IP2] mais áreas verdes com solo permeável e estratégias de mobilidade suave para que as pessoas deixem os carros estacionados e se desloquem mais a pé e de bicicleta.
Estando ainda, as Caldas da Rainha inserida no Oeste, região com uma grande área agrícola, apoiar boas práticas agrícolas e boas práticas de gestão do solo é sem dúvida crucial para a resolução desta problemática.
Proteger o solo não é apenas um compromisso ambiental, mas uma necessidade vital. Convido os leitores a acompanhar a COP16 – 16.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas de Combate à Desertificação, que começou dia 2 de dezembro e se prolonga até dia 13 de dezembro em Riade, na Arábia Saudita. ■