Quinta Emenda! Tenho o direito de ficar calada!

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Joana Louro - médica
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Joana Louro
médica

Escrevo em dia de eleições. Escrevo no final do dia de eleições. Escrevo sentada no sofá, enquanto assisto inicialmente às projeções, depois aos resultados finais, às apreciações dos diferentes comentadores políticos, aos múltiplos discursos dos diferentes intervenientes nos vários palcos políticos, nas diferentes salas de hotéis.

O meu pai tem, desde há muitos anos, um Blog chamado “Quinta Emenda”. Um blog que nasceu num tempo em que os blogs eram a forma mais imediata, livre e democrata de opinar, num mundo em que a globalização se começava a impor, mas onde as redes sociais ainda não tinham grande expressão. Cresci com esse blog e com as suas palavras e reflexões. Cresci com o blog e com a certeza que pensar, refletir, analisar o mundo, a vida e a sociedade era um poderoso exercício de honestidade, generosidade, maturidade e inteligência. Cresci com estes valores. Cresci a respeitar as diferenças – ideológicas e de expressão. Cresci com a frase introdutória do seu blog: “tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!”

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Hoje, tudo aquilo com que cresci e acreditei se desmoronou.
Hoje, só penso o quanto gostaria de evocar a Quinta Emenda! De evocar esse direito e ficar mesmo calada. Não fosse o meu compromisso com este jornal… e ter mesmo de falar. Ou escrever…

Não tenho palavras para descrever este resultado eleitoral. Ou talvez tenha uma: vergonha!
Não tenho palavras para descrever os 12 pontos que Portugal deu a Israel na Eurovisão. Ou talvez tenha uma: vergonha!

Também não tenho palavras para o meu Benfica e para o campeonato perdido! Mas isso são outros quinhentos. E algumas palavras: Rumo ao 39!

Duro este fim de semana.

São múltiplas as análises sociais e politicas que se podem fazer deste momento. Básicas a complexas. Jornais, televisões, redes sociais não falam de outra coisa. Deixo isso para quem não tenha tanta vontade de remeter-se ao silencio como eu tenho agora. O voto não é uma arma de arremesso. O icendiarismo não pode ser confundido com politica. O voto no Chega não foi sequer ideológico, foi vomito asqueroso de frustração e ódio. Confesso que sinto uma profunda falta de fé na humanidade quando assisto a estes resultados. E confesso que hoje estou muito zangada com a democracia. Mas não posso deixar! Não podemos deixar!

Todos temos o direito de ficar calados! Mas todos temos o dever de lutar pela democracia! Pela humanidade! Pelo respeito! Porque não estamos a falar de politica. Estamos a falar de valores! E estamos a falar de um país… que é o nosso… e que gostaria muito que fosse o das minhas filhas.

Tenho o direito de ficar calada. Mas depois desta noite é melhor aproveitar o direito que ainda tenho de gritar bem alto o que penso e acredito: 25 de Abril sempre! Humanidade sempre! Antes que nos silenciem a voz… E nos roubem esse e todos os outros direitos. Que os 50 anos da democracia sejam um marco e não o fim.

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