
Para contenção da veia opinativa desta rainha rabina que por aqui tem alvitrado, chegou o momento de se recolher ao recato do seu aposento em conserva.
Enlatada, emersa em pensamentos com ambiente controlado, não ficará exposta aos APAs – Adulteradores da Preservação Ambiental, nem às noticias que com frequência semanal, para não dizer diária, descrevem mais um flagelo neste domínio por todo o território.
Só assim lhe será possível se preservar ao calamitoso ambiente nacional a que esteve submetida aquando desta “saída da casca”, verificando as muitas facilidades, omissões e falhas na monitorização e fiscalização a que a região oeste está sujeita.
[Rainha em caldashowhide]
Como o que “fica longe da vista, fica longe do coração”, para evitar o enfarto, será preferível não ver que em Óbidos, dada a desmatação no Bom Sucesso, não mais haja sombreamento para percorrer a beleza agora desértica. Que a desprevenida gestão do solo e dos recursos hídricos acelera a erosão da costa, desperdiçando o recurso mais escasso do planeta. Que haverá a possibilidade de não se poder banhar de sol nem de mar porque as praias irão estar sujeitas ao depósito de sedimentos contaminados provenientes da tardia dragagem da lagoa. Que a infestação moscas, entre outras inúmeras pragas, incómodos e maleitas, não poderá ser apaziguada porque em Caldas, uma bactéria a impede ciclicamente de ir a banhos no seu hospital termal, enquanto as restantes águas pluviais misturadas com as residuais entornam na ETAR de dimensão de urbanização, logo básica em grau de tratamento e em capacidade, desaguam na lagoa, onde se mergulha e pesca.
São as margens desse espelho de água com percursos sem manutenção nem sinalização que iniba a circulação de veículos motorizados. É o areeiro que sem efetivo perímetro de proteção, coleciona misturadas de resíduos sólidos de todos os tipos, numa lixeira a céu aberto que dista menos de 3 quilómetros da instituição ambiental que a devia fiscalizar.
É em Leiria, que não há milagres na ribeira deles. Mesmo quando as águas vão claras a tranquilidade está comprometida porque a sua transparência engana os sentidos com impurezas ilegais das suiniculturas. Foi o Pinhal del Rei que foi possível arder.
São as más intenções de prospetar hidrocarbonetos no mar e em terra e um rol de seis séculos de delapidação do património que constatou.
Logo, se não já, o ar estará irrespirável, a água se a houver, imbebível, o silêncio impossível e a comida envenenada.
Indignada e por prevenção, por um tempo, esta cronista irá se caldear, mas não se calar.
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Maria João Melo
rainhaemcalda@gmail.com