A Guerra

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Vivi um ano numa cidade – a normanda Rouen – que tinha sido destruída duas décadas e meia antes pelo II Grande Guerra, bombardeada tanto pelas forças invasoras como depois contra as forças libertadoras e recordo, com imenso horror, o que aqueles que viveram nesses tempos me diziam que tinham sofrido.
Escutar a experiência daqueles que assistiram aos bombardeamento e à destruição das suas casas, dá uma sensação indiscritível de impotência, especialmente para quem nunca viveu semelhante situação. Depois, quando estive em Dresden (ex-RDA) nos anos 1980, contactei ao vivo com o resultado dessa barbárie, uma vez que a cidade permanecia por reconstruir na sua parte histórica, pois apenas tinha havido meios para reconstruir a parte habitacional. Tocar nas ruínas enegrecidas e queimadas que restavam desse grande conflito em que morreram milhões, não melhora a visão pela facto de estar do lado dos vencedores e da razão.
O que estamos a ver na Ucrânia, com a mesma emoção, mostra que o Homem por mais progresso social, tecnológico, cultural, que tenha conseguido, não se consegue desligar das suas raízes e obsessões mais dantescas e vis, que tornam a vida humana em simples números de perdas colaterais. Assistir em direto e a cores à destruição de vidas e de meios que foram construídos com esforço e suor, como se tal fosse obrigatório para justificar o deleite das vitórias dos militares, é um dos fenómenos humanos que mais nos intriga e choca. Como é possível justificar tudo aquilo, por razões que hoje são válidas e amanhã não são reconhecidas. Feliz ou infelizmente a arte, como é, por exemplo, na Guernica de Picasso, consegue fazer uma síntese prodigiosa de tal absurdo.
P.S. – Esta é a minha homenagem aos homens do RI5 que em 16 de março de 1974 deram o primeiro passo também para acabar com uma guerra em que Portugal estava envolvido em África há década e meia…