O ministro polaco dos Assuntos dos Combatentes e Vítimas da Repressão, Jan Stanislaw Ciechanowski, esteve nas Caldas da Rainha para agradecer a forma como os caldenses, e de um modo geral os portugueses, receberam nos anos 40 milhares de refugiados do seu país em fuga das perseguições hitlerianas.
A visita às Caldas da Rainha e a Portugal estava programada há vários meses, mas coincidiu com o momento em que milhares de refugiados atravessa a Europa fugindo dos conflitos do Médio Oriente e de África.
Os caldenses que viveram esses anos duros da 2ª Grande Guerra têm uma memória agradável dessa passagem de muitos estrangeiros pela cidade, que influenciaram decisivamente as Caldas da Rainha e os comportamentos dos habitantes, apesar de muitos estarem de passagem para os Estados Unidos e Canadá.
Presentemente, os refugiados que chegam à Europa não trazem essas mais valias, uma vez que muitos vêm de sociedades menos desenvolvidas, mas mesmo assim pode ser uma oportunidade para rejuvenescer as sociedades europeias que se têm anquilosado em termos demográficos.
Mas voltando a esta iniciativa polaca, Zé Povinho quer destacar esta manifestação de gratidão dos responsáveis daquele país, cerca de 70 anos depois dos tempos duros da segunda guerra, em que morreram milhares de soldados de muitos países e foram exterminados em campos de concentração mais de um milhão de homens, mulheres e crianças por professarem uma religião, pertencerem a um grupo político, ou terem uma raça específica.
Pode parecer prosaica esta preocupação nos tempos que correm. Contudo, a realidade é mais forte do que as teorias pacifistas e a proliferação de movimentos defendendo as boas causas. Em certos momentos, que hoje estão face aos olhos dos portugueses e de todo o mundo, levantam-se novas ameaças que envergonham qualquer cidadão.
Zé Povinho espera que daqui a 70 anos os descendentes destes migrantes e refugiados possam agradecer aos povos que os vão receber, como o ministro polaco fez com os portugueses agora.
O que se tem passado nos últimos dias com os refugiados na Europa deixa envergonhados todos, perante a desagregação dos consensos europeus e a ruptura ao nível de definição dos projectos comuns para um espaço que se pretendia de cooperação e de articulação para resolver problemas comuns.
Uma vez mais o arbítrio das decisões está a ser deixado a cada país, mas estes só parecem estar interessados em decisões comuns quando dizem respeito à distribuição de fundos e ao acesso aos benefícios.
O mais gritante, contudo, é a ausência de qualquer papel de negociação e de mobilização dos países que têm mais dificuldades em ultrapassar o problema da “invasão” dos refugiados, não se compreendendo o papel de duas figuras eleitas a nível comunitários e principescamente remuneradas, que afinal não servem para nada. Trata-se de Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, e Jean Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, que se passeiam pelas várias instâncias desempenhando papéis vazios e sem qualquer interesse para os europeus.
Quase ultrapassada, pelo menos formalmente, o problema das balanças de pagamentos dos PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) e dos défices, a Europa está a vergar por uma causa externa que o mundo não soube gerir nem resolver. A Europa como um todo, que noutras épocas recebeu solidariedade de outros continentes, mostra-se hoje incapaz de responder a uma só voz a este flagelo. A Alemanha quer dar o exemplo, mas alguns dos seus apaniguados, agora não a seguem.
Zé Povinho acha que os dirigentes europeus têm que desempenhar um papel mais activo na negociação e nas contrapartidas. Se não o fizerem, num ápice a Europa dos 28 desagregar-se-á. Donald Tusk e Jean Claude Juncker não serão os únicos culpados, mas são a parte visível desta incapacidade europeia para resolver um problema comum.