Caldas Cidade Cerâmica – Um conceito, múltiplas identidades

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Amélia Sá Nogueira
socióloga e ceramista

Os conceitos associados aos territórios são o que chamamos um “pau de dois bicos”. Não sendo uma estratégia inovadora, fazendo até em alguns momentos recordar os “chavões” de propaganda do Estado Novo, o marketing dos territórios incrementou nos últimos anos uma visão dos lugares como marcas. É inegável que a especialização dos territórios associados a conceitos vários funcionam, na grande maioria das vezes, como pólos de atratividade.
Escrevo hoje sobre o conceito de “Caldas Cidade Cerâmica”.
Sendo manifestamente insuficiente para uma análise ou estudo mais concreto sobre a atividade cerâmica no concelho, o recente Roteiro dos Ceramistas, apesar das suas lacunas, veio dar um importante contributo para o conhecimento de dois aspetos centrais no quadro da produção cerâmica atual em Caldas da Rainha: a) o número de ativos ligados à criação e produção cerâmica (76 oficinas e mais de uma centena de ceramistas) – b) a sua diversidade.
Como dar visibilidade e valorizar os aspetos identitários de um território sem o conhecimento e análise profunda dos seus ativos?
Perante a diversidade existente é necessário inventariar e categorizar a cerâmica que se produz no concelho, composta por ricos e distintos trabalhos que saem das mãos de barristas, oleiros, artesãos, criativos, ceramistas, se tivermos em conta apenas os ateliês. Os territórios não são intocáveis, são dinâmicos exigindo uma constante revisão histórica e estudo das práticas criativas.
Um outro aspeto fundamental é a divulgação. Para criar uma imagem de marca de um território é fundamental utilizar as plataformas digitais e institucionais, de modo apelativo, direto e sobretudo integrando todos os ativos criativos do concelho. Criar um território com valor simbólico, exige comunicação clara e assertiva, conhecimento, valorização e inovação. Chamar-lhe Cidade Cerâmica não basta.
Estão reunidas as condições para a criação no concelho de uma diferenciação positiva ligada à cerâmica e ás artes e ofícios no geral?
Gerir expetativas é quase sempre um trabalho árduo e Caldas não é exceção.

Nota: Agradeço o convite da Gazeta das Caldas para a colaboração como colunista. A minha ligação com a cerâmica tornou inevitável na primeira crónica abordar esta temática, elo de ligação profissional e afetivo, elemento identitário e de memória de um território que importa valorizar.