SANDES DE COURATO

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Gazeta das Caldas
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Obrigado

Se é certo que existe dignidade intrínseca nos cargos públicos e que isso deve ser reconhecido no tratamento devido aos seus detentores, sempre achei estranho a forma subserviente como muitas pessoas se dirigem à administração pública pois isso configura, a meu ver, uma inversão entre a importância do servidor e do beneficiário do serviço, que é, em última análise o cliente porque é quem paga. A todos nos é exigido um comportamento urbano e correcto, mas não mais do que isso. Esta forma de lidar com a administração local e central tem uma das suas expressões mais peculiares no agradecimento, ou seja, dizemos “obrigado” a alguém que realmente superou as suas obrigações, mas também dizemos “obrigado” para reconhecer alguém que mais não fez que cumprir correctamente as suas tarefas. Não temos fórmulas, no tratamento social, de distinguir claramente estas duas situações e essa impossibilidade de distinção é um factor de confusão entre situações em que estamos realmente gratos e aquelas outras em que só estamos a reconhecer a execução de um trabalho que foi, como era devido, bem feito.
Estas considerações vêm a propósito de assinatura, no passado 3 de Maio, do protocolo de criação da marca Cutelarias de Santa Catarina e Benedita. Estão de parabéns os industriais que, demonstrando visão e iniciativa abraçaram este projecto, está de parabéns a Airo pela forma como o operacionalizou, as Juntas de Freguesia de Santa Catarina e Benedita pelo apoio e as Câmaras Municipais de Caldas e Alcobaça, principalmente por não terem complicado e deixado os técnicos trabalhar.
Nos discursos da cerimónia vieram os agradecimentos da praxe aos Presidentes de Câmara e foi ao ouvi-los que me ocorreu a reflexão que acima partilhei. Atendendo àquilo que são as maiores obrigações dos detentores de cargos públicos de administração local, deve-se aqui ler nas educadas palavras de agradecimento dos industriais tão só o reconhecimento por os executivos municipais terem efectivamente feito o que deles se espera e para o que foram eleitos – trabalhado para o desenvolvimento dos seus Concelhos e da Região.
A Gazeta de 4 de Maio trouxe uma notícia que me causou estupefacção e para a qual esperava ver reacção dos diferentes actores políticos locais, o que não aconteceu e por isso, embora já tenha passado algum tempo, não posso deixar de retomar o assunto. A notícia em causa: “Vereadores do PS ausentes nos discursos oficiais do 25 de Abril”. Diz a Gazeta, os Vereadores do PS (muito bem na minha opinião) reclamaram pelo facto de não terem sido chamados ao palco durante as comemorações oficiais no Largo da Copa, citando o artigo “(…) só haver discursos de representantes do mesmo partido e não haver ninguém da oposição a falar, é muito redutor”. Se a notícia acabasse aqui, nenhuma razão para espanto haveria, porque o partido no poder monopolizar o espaço público é um hábito e já não notícia. A enorme gravidade da situação vem de seguida com as explicações do vice-presidente da Câmara, que também cito, “as intervenções (…) não foram feitas em nome de partido algum, mas sim em nome das instituições representadas.” Relembro, a questão que o PS levantou foi só estarem em palco membros do PSD local, vem depois o vice-presidente explicar-se dizendo que não, não eram representantes do PSD mas sim de instituições do concelho, mas…, compreende-se a confusão dos vereadores, são as MESMAS pessoas! Temos repetidamente denunciado a estratégia de manutenção do poder pelo partido que governa a Câmara através da apropriação e controlo das instituições da sociedade civil. Isto sim é a notícia! O vice-presidente da autarquia achar natural esta confusão, de tal forma que, não entendendo a gravidade subjacente a utiliza como argumento explicativo para preterir os representantes eleitos da oposição numa cerimónia oficial.

João Diniz

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