O subtítulo («A Horta entre 1853 e 1883») tem uma justificação imediata: em 1853 abre o Liceu da Horta e em 1883 surge o jornal «O Açoriano». Carlos Lobão não procurou apenas a vida dos notáveis locais – Manuel Joaquim Dias, José Garcia do Amaral, Manuel Zerbone, Florêncio Terra, Manuel Garcia Monteiro e Padre Manuel José de Ávila – mas também fez a aproximação a um conjunto de associações: o Teatro União Faialense, a Filarmónica dos Artistas, a Sociedade Amor da Pátria, o Asilo da Infância Desvalida e os jornais O Incentivo e O Faialense. É no entendimento entre os vultos locais e as diversas associações culturais, recreativas e filantrópicas que se combatem os problemas da maior cidade pequena do Mundo: o isolamento, os transportes, a pobreza, as crises cíclicas na agricultura, a mendicidade, as crianças abandonadas e em perigo, o medo do recrutamento, a emigração.
Cidade aberta ao Mundo («Praticamente todos os países têm aqui cônsules») recebe a ajuda semanal de Mr. Dabney: «Deparei com cerca de setenta mulheres pobres sentadas em frente do escritório do cônsul americano, cada uma recebia um subsídio semanal». O jornal O Açoriano em 1883 escreve com desassombro: «Uma pessoa que chegue aqui de fora pela primeira vez, há-de fazer de nós uma ideia pior do que a que merecemos».
Nas 300 páginas do livro que se lê como um romance porque é também uma narrativa, a investigação circula entre a amnésia do excesso e a amnésia da ausência mas sempre numa certeza: para repetir o que já se sabe não vale a pena o estudo da História.
(Edição: Núcleo Cultural da Horta, Prefácio: Carlos Cordeiro, Apoios: Direcção Regional da Cultura e Davide Marcos)