A conjuntura presentemente criada ao Hospital Termal é talvez a mais grave da sua história de 5 séculos.
A má vontade e o preconceito declarado que moveu os decisores políticos, contra o mais antigo Hospital Termal em funcionamento do Mundo, vinha de trás, pelo menos desde o consulado de Correia de Campos como ministro da Saúde e manifestou-se, até aos dias de hoje, com acintoso desdém pelos fundamentais interesses histórico-culturais e económicos de Caldas da Rainha e, em paralelo, pela componente pública estratégica do Estado. Vítima, durante anos, da continuada desorçamentação e de acentuado desinvestimento, o valioso património Termal, na sua globalidade, viu-se votado a um abandono irresponsável, à decrepitude e ruína criminosas, para além do menosprezo face aos aquistas e profissionais dos diversos serviços. Da parte de sucessivos governos, isto representou uma lamentável postura de lesa-Pátria.
Desde 2011 que se procurava transferir o ónus de responsabilidade sobre o Hospital Termal, sendo que este protocolo agora assinado, à pressa e à matroca, aproveitando uma zona cinzenta de vazio de Poder, estava a ser (mal) negociado desde Abril de 2013. A Autarquia demonstrou total submissão ao ser incapaz de se opor às pressões abusivas que levaram à suspensão dos tratamentos termais ou contrariar as provocações extremadas lançadas pela tutela, presentes em infelizes declarações oficiais, suscitando viva indignação, entre as quais avultaram a insinuação vil de que o Hospital não o seria, dada a designação ser «enganosa» e ainda, num relatório da ARS, a recomendação da sua entrega a uma unidade de gestão privada de vocação hoteleira, atoardas lançadas perante a cumplicidade do secretário de Estado, Leal da Costa, a tudo disposto pela vã glória de vir a ser ministro por 11 dias, 264 breves horas que jamais lhe assegurarão um lugar para a História.
O Protocolo de cedência do Hospital Termal e do seu património para o município de Caldas da Rainha celebrado entre o Presidente da Câmara, o presidente do Conselho de Administração do CHO e o Subdirector-Geral do Tesouro pode revelar-se um acto nulo, caso se confirmem certas dúvidas jurídicas sobre a efectiva pertença dos bens. Acresce que as entidades subscritoras, na busca de um facto consumado, não curaram de saber qual a posição do novo governo. Como se temia, abre-se a possibilidade da exploração ser confiada a privados, à custa de capitais públicos. Apesar de se ignorarem quais as parcerias futuras e o modelo de gestão a adoptar, os responsáveis, em fuga para a frente, entregam-se a profissões de fé que confundem desejos com realidades. Sabe-se porém que o município não tem vocação, experiência nem meios técnicos e financeiros para assumir este encargo, estando obrigado a investir 12,2 milhões de Euros nos primeiros 5 anos e depois ao pagamento de rendas excessivas; a reabilitação do balneário das Águas Santas não é tida em linha de conta; a unicidade do património não é garantida nem sequer um regime de autonomia, estabelecida a dependência de uma multiplicidade de entidades alinhadas entre o Ministério da Saúde e o das Finanças…
Face a um fluxo de desmantelamento e desarticulação, o administrador do CHO tem o topete de excluir o Hospital Termal da «principal missão – garantir o acesso a cuidados de saúde das populações», de considerar até «não ser relevante quem gere os espaços» e por fim, num registo de inegável descomprometimento, vaticinar a correcção das decisões tomadas mas situando-se fora do quadro de trabalho futuro.