UM LIVRO POR SEMANA / 540 / «Era uma vez uma boina» de Leonoreta Leitão

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Gazeta das Caldas
| D.R
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Gazeta das CaldasCom o subtítulo de «Memórias de uma professora do Estado Novo à Democracia», este livro de Leonoreta Leitão (n. 1929) tem um ponto de partida («Não somos nada sem os outros») e um ponto de chagada: «Em tudo o que vou escrever, sem rodeios, de coração aberto, não espero nem desejo sentir-me aplaudida nem censurada». A autora nasceu em Leiria, filha de Acácio Leitão e de Mariana Brandão. Foi afilhada de Afonso Lopes Vieira e um dia respondeu ao «Questionário de Proust» do «Jornal de Letras de 10-6-1964. Vejamos apenas três respostas: «- Onde gostaria de viver? – Em Leiria ou em Paris. – O seu ideal de felicidade terrestre? – Trabalho, paz e amor para todos. – Que culpas a seu ver requerem mais indulgência? – Todas as que forem realizadas por amor.»

Tratando-se embora das suas memórias, Leonoreta Leitão integra nelas as memórias de muitos outros que consigo partilharam o tempo que viveu. Por exemplo Orlando Neves que nas páginas 140 e 141 num artigo o Jornal «Unidade» de 1974 refere uns jovens que almoçavam em Benfica e mudaram as suas palavras no restaurante das «conversas em família» de Marcelo Caetano para o «Avante!» e para o «República», afirmando «é importante distinguir onde está o oportunismo e onde está a reflexão honesta». O seu tempo da Escola em Alcanena surge nas páginas 12, 64, 90 e 261: «Só em Alcanena me apercebi dessas minhas qualidades (pés bem assentes na terra) quando me achei perante uma Escola do Ciclo Preparatório e com determinação consegui que ela viesse a ser uma Escola Técnica.» Outro aspecto tem a ver com Urbano Tavares Rodrigues sobre quem Leonoreta Leitão escreve: «Na Páscoa de 1984 terminou a minha vida em comum com o Urbano por minha decisão, sem atritos.» Numa das cartas no livro copiadas, Urbano afirma «ninguém é de ninguém e tu de facto não és minha mas tua. Atingi contigo o extremo da felicidade humana.»
E neste sentido (falar de si para falar dos outros) a última página (a 286) refere uma reflexão do pai de Leonoreta Leitão que a autora toma como sua: «É preciso vive muito depressa e morrer muito devagar.»
(Editora: Colibri, Direcção gráfica e capa: Rui A. Pereira, Apoio à edição: Horácio Guerra) 

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