«As cidades são o luxo das nações; não passam disso» – estas palavras de Júlio César Machado (1835-1890) no seu livro «Lisboa na rua» (1874) ajustam-se bem a estes poemas sobre Braga em «A cidade das fontes» de Vergílio Alberto Vieira (n.1950). A capa do livro de Júlio César Machado recebe uma homenagem na fotografia de José Rocha na página 25 do livro de Vergílio Alberto Vieira tal como no poema da página 40 («As palhotas») se faz uma memória afectuosa do escritor Altino do Tojal, autor do clássico «Os putos», cujo título inicial é «Sardinhas e lua»: «As casas davam à rua / A alma que mais nenhuma / Entre sardinhas & lua / Todo o pobre perpetua / Em troca de coisa nenhuma.»
A cidade de Vergílio Alberto Vieira é, pois, uma cidade revisitada pelos poemas como em «A Brazileira» na página 24: «Da má-língua costurada / Entre dois cafés-de-saco / Viveu, pois, a assim crismada / Roma então evaporada / Em lentos rolos de tabaco / Fumado a ver quem passa / No eléctrico da tarde / A tempo de levar à praça / A fleuma, que a chalaça / Reduz a cinza, enquanto arde.»
A cartografia da cidade de Braga é feita em 20 poemas e 20 fotografias: além dos já referidos «A Brazileira» e «As palhotas» os poemas referem: Arco da Porta Nova, A Sé de Braga, Livraria Cruz, Sete Fontes, S. Bentinho do Hospital, Procissão do Enterro, Campo da Vinha, Rua dos Pelâmes, Theatro-Circo, Rua do Janes, O nosso café, Largo do Paço, Rio Este, Bacalhau à Narcisa, Montariol, Fonte do Ídolo, Pachancho e Braga por um canudo.
As fotos de José Rocha são outro olhar sobre os mesmos temas e recantos da Cidade. Apenas difere a ordem entre os poemas e as fotografias. O Prefácio de Francisco Duarte Mangas é também um regresso às origens: «O primeiro desempregado que conheci vivia no outro lado da rua: trabalhava na Pachancho. A mulher desse operário triste, a Glorinha, passava o dia à janela.»
(Editora: Crescente Branco, Prefácio: Francisco Duarte Mangas, Fotografias: José Rocha)